Artigo Zero Hora
HUGO PINTO RIBEIRO
Empresário
Empresário
Na década de 90, parecia que, em pouco tempo, veríamos uma equipe africana ganhando a Copa. Uma visão darwiniana explicava o sucesso dos corredores quenianos pela lenda de que, desde crianças, fugiam de leões. Da mesma forma, a luta pela vida na África dotaria os vencedores de força, agilidade e habilidade, receita imbatível no futebol, se for acrescentada disciplina tática.
Treinadores europeus foram buscados e a bravos soldados de guerras tribais se somaram generais europeus experientes em estratégia militar. Nigéria e Camarões em Copas, Gana em Mundiais Sub-20 e o ouro olímpico da Nigéria em 96 apontavam para o sucesso.
O colonialismo loteou a África entre os países da Europa Ocidental e o compromisso era com o desenvolvimento. Mas, a exportação de cultura e educação, tão abundantes na Europa, não aconteceu na mesma proporção que riquezas naturais migraram para as matrizes.
A balança comercial foi injusta. Para escapar da cobrança da conta, os europeus mantiveram os cordões umbilicais após a independência das colônias com seus portos abertos à imigração. O sonho do argelino era desembarcar em Marselha e do congolês aterrissar em Bruxelas. A dependência foi mantida e o futebol europeu foi se enriquecendo com a chegada dos imigrantes, pois seus descendentes acrescentaram habilidade, por vezes ausente nos estádios. Será que a França seria campeã em 98 sem o filho de argelinos Zinedine Zidane?
O Álbum de Figurinhas da Fifa mostra que descendentes de africanos ocupam grande parte das fotos das seleções europeias. Já temos um grande time africano classificado para as oitavas, a França de Sakho, Evra, Sissoko, Matuidi, Pogba e Benzema, sob o comando de Didier Deschamps para confirmar a metáfora militar. Mas da África real só restam Nigéria e Argélia.
Então, por que a hipótese de um título africano não se concretizou? Recorrendo ao colonialismo, penso que o respeito e a submissão dos colonizados ainda são observados nas decisões.
Se nesta Copa alguma equipe africana chegar até o final, seria uma bela exceção, pois a inversão da metáfora nos levaria de um futebol africano vencedor para uma África melhor.
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