Artigo Zero Hora
As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino é um atlas de sonho. Na obra, Marco Polo descreve 55 cidades ao imperador Kublai Khan. Com uma carga humana e poética, Calvino resgata genialmente a técnica de filósofos medievais que usavam as cidades para estudar o ser humano. Impossível definir o real e o imaginário, pois as cidades mudam conforme o olhar que recai sobre elas, formando lembranças particulares. E é este olhar que permite conexão com fenômenos urbanos atuais.
A Copa do Mundo tornou Porto Alegre única e plural na paisagem e na construção do seu universo.
As diferentes visões da cidade estão intimamente ligadas aos nossos sonhos: dividimos os espaços de memórias ambíguas, amores e desamores; paisagens que se descortinam, desejos que refletem sentimentos e sensações e uma linguagem perfeita para bradar com orgulho no peito gaúcho.
Um olhar atento permite afirmar uma nova ecologia cultural que encanta e provoca reflexões. O que era um projeto de recepção aos visitantes é uma realidade que articula conceitos e instituições que nosso imaginário não permitia antecipar: os pontos turísticos de Porto Alegre são as pessoas.
Pessoas que estão nas ruas da cidade.
O povo gaúcho acolhe. Compartilha. Festeja. Brinda o inusitado. Brinda as outras pessoas.
Não restam dúvidas de que esta desmaterialização da cidade nos presenteou com um cenário inimaginável e profundas reflexões sobre nosso papel e lugar.
Bah! O que ganham os gaúchos com isso?
Ganham um espírito menos bairrista. Ganham um caráter contemporâneo capaz de conciliar diferentes linguagens para compreender/aceitar a diversidade.
Ganham a baita capacidade de entender o comportamento das pessoas (e também o nosso próprio comportamento).
Como diríamos com orgulho, é de cair os butiás do bolso, porque ganhamos a verdadeira metamorfose de um olhar que Porto Alegre e os gaúchos merecem.
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