sexta-feira, 27 de junho de 2014

" Mobilidade De Padrão "

 

 
 
Quando o ex-prefeito de Bogotá Enrique Peñalosa apresentou-se no Fronteiras do Pensamento, indicava que a mobilidade e o trânsito são problemas distintos, com soluções distintas, defendendo que carros cedam espaço para passeios públicos, ciclovias e transporte público, enfatizando restrições ao uso dos automóveis, como a proibição do estacionamento em certas regiões das cidades. Em paralelo, o governo federal anunciava medidas voltadas à facilitação na compra de veículos, dilatando o prazo de financiamento para 60 meses, reduzindo as exigências para empréstimos bancários e com incentivos para baixar o valor das entradas.
 
Tais registros contrastam com as condições de mobilidade urbana de Porto Alegre, onde circular passou a ser um calvário para os motoristas, os quais têm lidado, amiúde, com situações peculiares. Enveredar para o interior de seus bairros, tentando escapulir do caótico trânsito de suas principais artérias, com o objetivo de buscar atalhos através de sua malha interna, significa colocar-se na condição de reféns dos veículos que se encontram em dupla mão e dos que estão estacionados em ambos os lados da via. Há muito tempo carecemos de proposições voltadas à reavaliação dos modais de transporte e do planejamento estratégico de requalificação de nossa malha viária, imobilizada pela utilização de uma legislação obsoleta que a torna saturada pelo emprego de desenhos viários contraditórios.
 
 
 
Cientes de tais problemas, o Instituto dos Arquitetos do Brasil/RS e a prefeitura municipal agenciaram o debate Desafios Urbanos - Por um Projeto de Cidade, que teve por objetivo abrir um diálogo público com foco nestas demandas. Foram, então, identificadas premências vitais, como a obrigação de qualificar o transporte urbano, de buscar meios para melhor explorar a questão fluvial, de ampliar o empenho para repensar novos espaços urbanos e alternativas de trafegabilidade, e do aproveitamento dos recursos de que dispomos no momento, de modo que tais investimentos possam resolver estas dificuldades de maneira integrada, considerando, também, a necessidade de encarar o desgovernado incentivo voltado à aquisição de veículos automotores, instituído sabe-se lá com quais propósitos.
Júlio Cruz é arquiteto

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