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Ao retirar mais de 200 cães de um laboratório de pesquisas científicas em SP, um grupo de ativistas esquentou discussão sobre o uso de animais em testes
O Brasil vivenciou na noite de quinta-feira uma versão não ficcional do filme Os 101 Dálmatas, clássico da Disney no qual cachorrinhos são salvos de serem mortos para virar cosmético.
Só que o resgate, ocorrido no interior de São Paulo, foi de outra raça de cães – mais de 200 beagles – e os fins para os quais eles seriam usados são pretensamente científicos, para testes de medicamentos. A libertação dos cachorros, feita por ativistas ambientais e que resultou também na fuga de coelhos e ratos, resultou em queixa de furto contra os ambientalistas. E em intenso debate entre defensores de animais e pesquisadores, que acham imprescindível o uso de testes em bichos, para o bem da ciência.
Uma petição online contra o uso de animais em experimentos, lançada pelo site Avaaz.org, coletou mais de 265 mil assinaturas até a tarde de ontem. Tudo impulsionado pelo episódio da polêmica libertação dos cães, que aconteceu nos laboratórios de pesquisas científicas do Instituto Royal, em São Roque (a 66 quilômetros de São Paulo).
A empresa já era investigada pelo Ministério Público por suspeita de que os animais eram acomodados em condições irregulares. No local são testadas nos cachorros possíveis reações adversas aos medicamentos, como vômito, diarreia, perda de coordenação e até convulsões. Entre os ativistas que participaram do ato, organizado pela interner, está a atriz Nicole Puzzi, famosa por pornochanchadas nos anos 70.
A lei permite que se faça experimentos, desde que se prove que não há outros meios para se chegar a um resultado científico. Os ambientalistas que soltaram os beagles garantem que alguns cães tinham lesões nos olhos e nas patas, o que leva à desconfiança de maus-tratos. O resgate canino gerou comoção, por vários motivos. De um lado, porque os experimentos na Royal envolvem cães, os mais populares animais de estimação, ao ponto de angariar o epíteto de “melhor amigo do homem”. E logo cães de raça, os beagles, mundialmente conhecidos pelo personagem de quadrinhos Snoopy.
– Provoca uma compreensível reação emocional e, até por isso, a indústria tem desenvolvido testes com modelos simulados, não vivos. Mas em alguns casos os experimentos em animais são imprescindíveis. Para verificar se determinado produto é teratogênico (que causa deformações) ou para testar drogas contra câncer – exemplifica a veterinária Luiza Macedo Braga, professora da PUCRS e membro do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal.
O pesquisador Álvaro Montenegro Valls, professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Unisinos, não é tão conformado com a justificativa científica para uso dos animais em testes. Ele diz que, no estágio atual da humanidade, existem muitas alternativas. Entre elas, o uso de bonecos de anatomia e simulações de computador.
– Pingar produtos no olho para testar irritação e outras formas que envolvem sofrimento são inadmissíveis – opina.
Os animais resgatados do Instituto Royal por ativistas estavam sendo oferecidos para adoção em sites na internet. Mas quem adotar poderá incorrer em crime de receptação. Isso porque se trata de produto de furto, indicou o delegado seccional de Sorocaba, Marcelo Carriel. A pena prevista vai de um a quatro anos de prisão.
A Polícia Civil de São Roque abriu inquérito para apurar a invasão e depredação do instituto. O laudo da perícia feita no local deverá apontar a direção dos indiciamentos. Imagens da invasão serão usadas para identificar os ativistas.
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