sábado, 26 de outubro de 2013

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IMPREVIDÊNCIA ADMINISTRATIVA

Sempre que uma chuva ou temporal provoca alagamentos numa região altamente urbanizada, como ocorreu ontem na região metropolitana de Porto Alegre, as alegações dos administradores públicos se assemelham: tudo se deve a uma precipitação atípica. Ora, as cidades modernas têm que estar preparadas também para eventos climáticos menos rotineiros.

O planejamento urbano exige isso: sistemas de escoamento eficientes para possibilitar a mobilidade urbana e para preservar a segurança das pessoas. Não foi o que se viu ontem em municípios como Sapucaia do Sul, Esteio, Canoas, Gravataí, Cachoeirinha e parte da Capital. O caos no trânsito, o desespero das pessoas diante do cerco das águas e a descontinuidade em serviços básicos compõem um quadro de absoluta imprevidência administrativa. A prioridade, neste momento, é socorrer quem saiu prejudicado, mas a sociedade não pode perder mais esta oportunidade de debater alternativas concretas de prevenção.

De alguma forma, o colapso registrado agora guarda semelhança com o que ocorreu há pouco mais de um mês em áreas vitais da Região Metropolitana. Em setembro, centenas de residências do bairro Sarandi e até mesmo instalações da Federação das Indústrias (Fiergs), na zona norte da Capital, foram invadidas pelas águas do Arroio Feijó, que também atingiram Alvorada.

Na mesma época, o Arroio Esteio também transbordou, inundando o estacionamento da Expointer, a ponto de dificultar o acesso de visitantes e de prejudicar expositores. Agora, além dos prejuízos diretos a parcelas expressivas da população, o mau tempo afetou parcialmente até mesmo o trensurb, além de paralisar momentaneamente o tráfego de veículos num trecho importante da BR-116, que foi invadida pelas águas, e de afetar a circulação em outras vias da região.

Em vez de responsabilizar apenas o poder público _ que não tem como controlar alterações climáticas, mas deveria planejar melhor o ambiente urbano _, a sociedade precisa refletir sobre qual seria a sua parte na prevenção de fenômenos como inundações. Entre as hipóteses levantadas para o atípico represamento das águas em Sapucaia do Sul, está o acúmulo de detritos provocado pela demolição de residências para a ampliação da ERS-118. Tanto a população, quando não manuseia adequadamente o lixo, por exemplo, quanto o poder público, quando deixa de fazer ou posterga obras como a canalização de mananciais, ou, ainda, tolera a ocupação em áreas de risco, têm sua parte de responsabilidade nesse tipo de ocorrência, que é, em muitos casos, previsível.

O poder público, em todas as instâncias da federação, precisa se mostrar mais preo- cupado com investimentos em infraestrutura capazes de atenuar dramas como o dos alagamentos. Esse interesse será maior se a sociedade se revelar mais consciente em relação à questão, fazendo a sua parte para atenuar o problema e cobrando ações efetivas dos governantes.

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