Eu já tinha percebido, mas foi lendo uma carta de
leitor num jornal paulista que confirmei a minha impressão: os sabiás estão
começando a cantar cada vez mais cedo. O homem escreveu para desabafar, disse
que acorda na madrugada e não consegue mais dormir por causa do pássaro
namorador. Os sabiás-laranjeira, como se sabe, cantam para atrair as fêmeas – e
aquele que canta mais alto e em tom mais melodioso leva vantagem sobre os
demais. O raciocínio delas é lógico: machos que cantam com mais vigor terão
maior capacidade de alimentar os filhotes. A interpretação não é minha, é de
ornitólogos.
Mas por que eles não deixam para abrir o bico lá pelas sete ou oito horas, como fazem todos os mortais? Também tem resposta para isso.
A culpa é das metrópoles, garantem os especialistas. As luzes da cidade levam a ave a pensar que o dia já clareou. Tem também os ruídos: para evitar a concorrência do barulho de portões eletrônicos se abrindo, carros circulando, buzinas e mães acordando filhos dorminhocos, os pássaros soltam a voz mais cedo. Assim garantem audiência total. Há quem se incomode. O missivista a que me referi queria que a prefeitura de sua cidade tomasse providências, impondo a lei do silêncio à passarada. Era só o que faltava. Nós, com nossos casulos de cimento e ferro, ocupamos o espaço que um dia foi só dos bichos e ainda queremos que eles se calem. Deixa o sabiá namorar, amigo paulista!
O sabiá-laranjeira, ave-símbolo do Brasil, tem sido cantado em prosa e verso por nossos escritores e poetas, de Gonçalves Dias a Chico Buarque. É uma espécie de trompetista da primavera. Desde que este país era habitado apenas por selvagens, os sabiás sinalizam a chegada da estação das flores. Existe até uma lenda indígena que diz que quando uma criança ouve o canto do sabiá pela madrugada recebe uma bênção de amor, felicidade e paz. E agora os civilizados querem calar o bicho.
Peço licença para discrepar, como dizia um sábio (não um sabiá) da Academia Brasileira de Letras. Tenho tanto respeito e admiração pelos alaranjados, que até ando deixando meu carro fora da garagem, para não perturbar o sossego de um casal que fez ninho exatamente num arbusto situado na entrada. Mal distingo o macho da fêmea, mas percebo que eles estão sempre lá, vigilantes, e sei que em breve acompanharei aulas de voo no meu pátio, como já aconteceu em outras primaveras. Meu trato informal com eles é o seguinte: fiquem à vontade, mas não esqueçam de me acordar com aquela deliciosa sinfonia da madrugada.
Mas por que eles não deixam para abrir o bico lá pelas sete ou oito horas, como fazem todos os mortais? Também tem resposta para isso.
A culpa é das metrópoles, garantem os especialistas. As luzes da cidade levam a ave a pensar que o dia já clareou. Tem também os ruídos: para evitar a concorrência do barulho de portões eletrônicos se abrindo, carros circulando, buzinas e mães acordando filhos dorminhocos, os pássaros soltam a voz mais cedo. Assim garantem audiência total. Há quem se incomode. O missivista a que me referi queria que a prefeitura de sua cidade tomasse providências, impondo a lei do silêncio à passarada. Era só o que faltava. Nós, com nossos casulos de cimento e ferro, ocupamos o espaço que um dia foi só dos bichos e ainda queremos que eles se calem. Deixa o sabiá namorar, amigo paulista!
O sabiá-laranjeira, ave-símbolo do Brasil, tem sido cantado em prosa e verso por nossos escritores e poetas, de Gonçalves Dias a Chico Buarque. É uma espécie de trompetista da primavera. Desde que este país era habitado apenas por selvagens, os sabiás sinalizam a chegada da estação das flores. Existe até uma lenda indígena que diz que quando uma criança ouve o canto do sabiá pela madrugada recebe uma bênção de amor, felicidade e paz. E agora os civilizados querem calar o bicho.
Peço licença para discrepar, como dizia um sábio (não um sabiá) da Academia Brasileira de Letras. Tenho tanto respeito e admiração pelos alaranjados, que até ando deixando meu carro fora da garagem, para não perturbar o sossego de um casal que fez ninho exatamente num arbusto situado na entrada. Mal distingo o macho da fêmea, mas percebo que eles estão sempre lá, vigilantes, e sei que em breve acompanharei aulas de voo no meu pátio, como já aconteceu em outras primaveras. Meu trato informal com eles é o seguinte: fiquem à vontade, mas não esqueçam de me acordar com aquela deliciosa sinfonia da madrugada.
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