Começou mais cedo do que se previa: oito meses antes da Copa do Mundo, as companhias aéreas projetam reajustes superiores a 100% nos preços das tarifas de voos domésticos no período dos jogos. Não há justificativa para tanta ganância. Compreende-se que o aumento da demanda provoque alguma elevação, como determina a informal lei da oferta e da procura. Mas a exploração é inaceitável e tende a se repetir em outras áreas se as autoridades governamentais e os órgãos de defesa dos interesses do consumidor não agirem preventivamente.
Em outros países com economia de livre mercado que realizam eventos internacionais de proporção semelhante, o poder público costuma agir com rigor nesses momentos para evitar a esperteza predatória.
Nos cálculos mais otimistas, a estimativa é de que em meados do próximo ano aproximadamente 600 mil estrangeiros e 3 milhões de brasileiros se deslocarão pelo Brasil, movimentando um valor estimado em R$ 25 bilhões. Diante dessa distorção temporária do mercado, é previsível que, tanto no setor aéreo quanto em muitos outros, impactados diretamente pelo maior fluxo de turismo, haja a preo-cupação de potencializar os ganhos.
No setor hoteleiro, por exemplo, o preço das diárias a partir do dia 12 de junho, quando começam as competições, registra rea-justes superiores a 500%. Se os demais prestadores de serviço seguirem esta lógica, dá para se ter uma ideia do patamar a que podem chegar os valores das refeições, que, ao contrário das tarifas aéreas e das diárias de hotéis, não têm como ser calculados antecipadamente.
Em qualquer economia de livre mercado, como é o caso da brasileira, os preços tendem a subir quando a demanda cresce e a baixar quando a oferta volta a se mostrar maior do que a procura. Dificilmente, porém, as variações costumam ocorrer em patamares como os previstos agora, o que pode contribuir para desgastar a imagem do Brasil no Exterior, pondo em risco as perspectivas abertas para o setor turístico a partir do Mundial.
Preocupada com os possíveis prejuízos, a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) pressiona por uma atuação mais firme por parte dos órgãos de defesa do consumidor. Diante da divulgação dos abusos, algumas empresas aéreas já começaram a rever as tarifas. Da mesma forma, o país precisa se mostrar menos burocrático e mais criativo, abrindo caminho para a adoção de medidas que realmente contribuam para favorecer os consumidores num momento tão aguardado de celebração do esporte. O melhor a ser feito contra a exploração de preços durante o Mundial é apelar para o bom senso, evitando intervencionismos incompatíveis com uma economia de livre mercado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário