Hamlet é uma peça enigmática, política, violenta e filosófica. Entre outras muitas características e qualidades. Uma peça que pode ser representada em qualquer tempo e em qualquer lugar. E, cada vez que for encenada, revelará algo importante do que está acontecendo naquela sociedade. Esse é o segredo de uma grande peça. E Hamlet é uma grande peça.
Se for representada hoje no Brasil, mostrará de forma escancarada o que nem desconfiávamos e que só agora ficamos sabendo graças a um anarquista ambicioso e magnânimo hoje exilado em Moscou: que estamos sendo espionados.
Em Hamlet, todos os personagens são constante e rigorosamente espionados, perseguidos, vigiados: Hamlet vigia Claudio, Claudio vigia Hamlet, Polônio vigia os filhos, Laertes e Ofélia, além de vigiar Hamlet, razão, aliás, pela qual é acidentalmente morto. Rosenkrantz e Guildenstern, colegas de faculdade de Hamlet, vigiam o amigo, a mando de Claudio. E assim indefinidamente. A razão dessa eterna vigilância é fundamentalmente política, ou seja, a da conquista e manutenção do poder.
Claudio matou o irmão, que era rei, para apossar-se do trono. Gertrudes, esposa do rei assassinado, casa-se com o cunhado para preservar o poder. Hamlet, que era o herdeiro direto, é instigado pelo fantasma do pai a vingar-se. Mas ele é um universitário renascentista que não acredita mais em fantasmas. Porém, acredita no teatro como forma de revelação da realidade. Por isso, faz representar na corte uma peça que ele mesmo escreveu e que reproduz a cena do assassinato do rei, seu pai, diante do que o rei assassino não resiste e se entrega. E assim, de cena em cena, vai se revelando que há algo de podre no reino da Dinamarca.
Ofélia aceita ser vigiada durante um encontro que mantém com o príncipe por pura insegurança. Num universo predominantemente masculino – na peça, só existem duas mulheres, ela e a rainha –, o que lhe resta senão o suicídio? Hamlet, por sua vez, quando fica sabendo como Claudio se tornou rei, disfarça seus verdadeiros sentimentos sob o artifício da loucura.
Uma forma de fazer teatro na vida real. Afinal, há
mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia, nos ensina
Shakespeare no final do primeiro ato.
A peça termina, como previsto, numa tragédia generalizada. Todo mundo mata, todo mundo morre. Afinal, como diz Hamlet em suas últimas palavras: “O resto é silêncio”.
A peça termina, como previsto, numa tragédia generalizada. Todo mundo mata, todo mundo morre. Afinal, como diz Hamlet em suas últimas palavras: “O resto é silêncio”.
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