terça-feira, 17 de novembro de 2015

" A Monstruosidade "


 Francisco Louçã*
 
 
Os atentados em Paris não são um ato de guerra. São uma monstruosidade. Atacar populações civis não é guerra, é cobardia e é abominável.
 
As vítimas são sempre todos. Os muçulmanos de Paris ou quem não tem religião. Quem assiste ao jogo de futebol ou quem o ignora. Quem gosta de Hollande e quem o detesta. Quem sabe onde é a Síria e quem nunca olhou para um mapa. Quem acolhe os refugiados do Afeganistão e quem tem medo deles. Todos.

Mas, se as vítimas são todos, então esta ato não é guerra, é fuga.

Sei que o mesmo se pode dizer de outros bombardeamentos de populações civis. Tem sido assim no Iraque como na Síria. Foi assim na Líbia e no Afeganistão. Não é o facto de não haver câmaras de televisão que contem os mortos ou mostrem o sofrimento que diminui a monstruosidade. Sei que o mesmo se deve dizer dos ataques de Erdogan contra as cidades curdas. A monstruosidade.

É precisamente a reivindicação da humanidade contra a monstruosidade que exige, por isso, a inteligência da resposta. Em nome da sociedade e da democracia, o combate ao terror deve erradicar as suas cumplicidades, os seus negócios, as suas armas, os seus fanatismos, as suas bases e as suas ligações, os seus mandantes e os seus agentes. A cultura do ódio é o contrário da inteligência e exigência da humanidade. Basta de criar guerras para justificar as guerras.

A guerra infinita nunca vence. Também nunca perde. Exceto para as vítimas. Todos, agora, contra a 
monstruosidade.

*  Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
Artigo publicado em blogues.publico.pt a 14 de novembro de 2015
Foto: Uma criança síria teria levantado as mãos ao confundir uma câmera fotográfica com uma arma. A imagem foi compartilhada pela fotojornalista Nadia AbuShaban via Twitter e se tornou viral. O autor da foto é o turco Osman Sagirli. 
A criança é uma menina chamada Hudea, de 4 anos. A imagem foi tirada no campo de refugiados de Atmeh na Síria. Hudea viajou ao campo - a cerca de 10 km da fronteira turca - com a mãe e dois irmãos, a 150 km da cidade deles

Guerra na Síria já deixou 240 mil mortos, entre eles 12 mil crianças

240 MIL MORTOS

Balanço é do Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
Conflito já dura mais de quatro ano
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Funcionários documentam e contam corpos que, de acordo com combatentes rebeldes, são de membros das forças leais ao presidente da Síria Bashar al-Assad. Eles foram preparados para serem enterrados em Aleppo, no norte do país (Foto: Mahmoud Hebbo/Reuters)
Funcionários documentam e contam corpos que, de acordo com combatentes rebeldes, são de membros das forças leais ao presidente da Síria Bashar al-Assad. Eles foram preparados para serem enterrados em Aleppo, no norte do país (Foto: Mahmoud Hebbo/Reuters)A guerra na Síria deixou mais de 240 mil mortos, incluindo 12 mil crianças, de acordo com um novo balanço do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
A cifra corresponde a um aumento de mais de 10 mil mortos em quase dois meses, segundo esta ONG com sede na Grã-Bretanha, que conta com uma vasta rede de fontes na Síria e que estabelece cuidadosamente o balanço de mortos desde o início da guerra.
"Contabilizamos 240.381 mortos desde o início da revolta contra o regime de Bashar al-Assad, em março de 2011", declarou nesta quinta-feira à AFP Rami Abdel Rahman, chefe do OSDH.
Civis
Segundo seus cálculos, o número de mortos entre os civis é, até a data, de "71.781, incluindo 11.964 crianças".
Este balanço também inclui 42.384 mortos entre os combatentes de nacionalidade síria -- rebeldes, desertores, jihadistas e curdos.
A ONG indica ainda que entre os combatentes jihadistas estrangeiros, o número de mortos chega a 34.375.

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