terça-feira, 17 de novembro de 2015

" Como seria se os Incas tivessem vencido ? "

Artigo Zero Hora- Maurício Tonetto
Há alguns dias, numa conversa de passada no bar da Redação de Zero Hora, me atrevi a dar conselhos ao excelente colunista Moisés Mendes, que embarcará para uma viagem turística ao Peru em breve. Como sou um estudioso obstinado da cultura inca e já fui mais de uma vez para as ruínas de Machu Picchu, falei para o Moisés o que ele deve ver lá pelos altiplanos e os cuidados que tem de tomar com o charlatanismo místico. Disse para ele, por exemplo, que a antiga cidade perdida, talvez o monumento arqueológico moderno mais impressionante do mundo, não servia para sacrifícios humanos, a despeito do que propagam alguns "guias" turísticos.
Também comentei com o Moisés que os incas utilizavam Machu Picchu para definir os rumos de um império, que teve uma população de mais de 15 milhões de habitantes no apogeu, baseados em previsões astronômicas e conselhos de um grupo de sábios membros da sua elite. Lá em cima, eles interpretavam os movimentos das estrelas para projetar possíveis secas, enchentes ou qualquer catástrofe que afetasse a produção agrícola e a paz das suas cidades. Deu certo, até a chegada dos europeus. O que eu não falei ao Moisés, e aproveito este nobre espaço para isso, é que todos os brasileiros como ele deveriam conhecer a história dos incas para imaginar como seria a América se a cobiça pelo ouro não tivesse vencido. Viveríamos hoje, provavelmente, numa sociedade baseada na justiça e numa relação harmônica com a natureza, e não sob a lógica competitiva e autodestrutiva trazida e imposta pelos europeus.
Não afirmo aqui, Moisés, que os incas eram perfeitos. Francisco Pizarro, o conquistador espanhol, inclusive aproveitou uma briga entre dois irmãos sucessores ao trono e o descontentamento de tribos que não aceitavam integrar o império para dizimar uma civilização milenar em troca de quilos de ouro, que acabaram transportados por navios para adornar as catedrais espanholas, os salões das cortes e os estádios de touradas. Mas é certo, Moisés, que os incas desenvolveram métodos de construção, plantação e um sistema social de direitos e deveres bem claros e aplicados, que deixaram abismados os próprios conquistadores. Tanto que, quando chegaram à América, eles simplesmente não acreditavam no que viam e, tomados pela inveja, destruíram o que não entendiam. Era outro o destino que nos aguardava, não fosse a incansável guerra por dinheiro e status que gera tanto descontrole e impunidade até hoje. Desconfio que o Moisés voltará diferente dessa viagem.

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