Artigo Zero Hora
O episódio dos dois arrombamentos seguidos do Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre, é simbólico do descaso com as instituições de ensino do Estado. A falta de segurança é a questão mais urgente, mas a deterioração estrutural e a demora nas reformas do prédio histórico demonstram bem como o poder público vem tratando uma área que é imprescindível para o futuro dos jovens gaúchos. As ações de delinquentes ampliam a percepção geral, que não é apenas de educadores e estudantes, de que a educação sofre danos por omissões em todas as áreas. A questão da segurança é exemplar desse descaso, tomando-se o caso do Instituto atacado por arrombadores.
Não há desculpa para a realidade dessa escola, que já não conta nem mesmo com o suporte mínimo de esquemas de segurança. Sabe-se que o educandário era vigiado por profissionais de empresas privadas, contratados pelo Estado, que deixaram o serviço há cerca de dois meses por falta de pagamento. Se o Estado não consegue ao menos preservar o patrimônio público, de uma área essencial, é porque a educação deixou há muito de ser prioridade. Essa não é uma realidade produzida pelo atual governo, que herdou uma situação financeira dramática, com consequências negativas para quase todas as atividades que mantém.
Por isso, a avaliação da situação enfrentada deve ir além do lamento sobre a ousadia dos criminosos, a impunidade e a reincidência que estimula atos como esse, repetidos exaustivamente em colégios, postos de saúde e creches da periferia. Há também uma certa indiferença da própria comunidade em relação ao abandono do ensino, ou o cenário — não só de Porto Alegre, mas da média no Rio Grande do Sul — não teria chegado a um estágio tão degradante. Escolas saqueadas expõem a face criminosa dos que se sentem à vontade para agravar a situação de estruturas humilhadas por bandidos e, ao mesmo tempo, sucateadas e desconsideradas pelas instituições que deveriam mantê-las.
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