sábado, 28 de novembro de 2015

Nunca foi tão difícil ser otimista. Nunca foi tão importante ser otimista.

Artigo Zero Hora
* Marcelo Gonzatto <repórter de ZH >
Talvez houvesse clima semelhante nos anos de chumbo da ditadura, quando o país ansiava por liberdade e o planeta vivia a dois minutos para a meia-noite — parâmetro utilizado para medir o risco de uma catástrofe nuclear provocada pela Guerra Fria. Mas, hoje, para onde quer que se olhe no Brasil e no mundo, há algo fora do lugar.
O planeta parece haver se tornado o palácio sinistro que Bin Laden sonhou, a administração Bush alicerçou e, daí por diante, foi sendo construído por muitas mãos a cada facada, bomba ou disparo de metralhadora. O Estado Islâmico só precisou se ocupar de pendurar os quadros nas paredes — e nem precisamos falar das imagens que eles retratam.
Em uma metáfora climática lamentável, mas bastante adequada, 2015 é o período mais quente já registrado na história. É o mesmo ano em que testemunhamos, abismados e inertes, a lama de Mariana escorrer de uma barragem mal guarnecida, arrasar vilarejos, matar e desalojar pessoas e transformar mais de 500 quilômetros de um dos principais rios do país em um canal sujo e sem vida.
O termo "lama", em outra metáfora lamentável, mas bastante adequada, costuma designar os sucessivos escândalos de corrupção que sacodem o país. Para piorar, violência em alta e economia em baixa. Dá vontade, como planejou Delcídio Amaral, de pegar um Falcon 50 e sumir por aí. Só não se sabe para onde: afinal, para onde quer que se olhe, há algo fora do lugar.
Em períodos assim, é fácil ceder ao ódio, ao egoísmo, ao pensamento mágico, ao fundamentalismo religioso, ao conservadorismo moral — o que ajuda a explicar, em parte, os comentários de internet e a atual composição do Congresso. Mas ceder ao ódio, ao egoísmo, ao pensamento mágico, ao fundamentalismo religioso, ao conservadorismo moral é recorrer justamente à fórmula que nos meteu nessa enrascada.
A democracia voltou ao país e o mundo não sucumbiu diante da catástrofe nuclear iminente, ainda que o processo de redemocratização não esteja completo, e o relógio que mede o risco da hecatombe tenha sido atrasado, mas não desligado. Mais uma vez, é preciso confiar em que as coisas vão melhorar. Mesmo que seja difícil, nunca foi tão importante ser otimista.

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