segunda-feira, 20 de outubro de 2014

" Desconstrução "

Artigo Zero Hora

0
PAULO BROSSARD
Jurista, ministro aposentado do STF
  •  " ... nunca pensei que veríamos a democracia ser " descontruída " de forma tão explícita !


  • Desde os tempos de estudante até vestir a toga participei da atividade política. Vi e senti duas ditaduras, uma guerra mundial, o restabelecimento da democracia e ainda agora o espetáculo das eleições. Ou porque os partidos extintos e refeitos ainda não preencheram sua real finalidade ou por outra causa, personagens novos, sem voto ou responsabilidade partidária, ganharam importância na cena política, cuja contribuição não foi a desejável para aprimoramento do estado democrático. Atuando no horário eleitoral, os denominados “marqueteiros”, hoje, ocupam o espaço dos antigos líderes partidários.
  • A propaganda política faz com que os candidatos compulsoriamente, pelo rádio ou pela TV, entrem nos lares das pessoas, para levar sua mensagem. Em tese isso seria benéfico, mas o mau uso está deturpando os bons propósitos.
  • Assim como Orwell profeticamente previra, uma nova língua tem surgido para mudar o sentido das palavras. Corrupção foi apelidada de “malfeito”. Eis que surge outra novidade, a “desconstrução”, consistente na repetição sistemática de falsidades contra determinado candidato, para reduzir sua aceitação junto ao eleitorado.
  • O candidato não usa o nobre espaço que lhe é dado para expor suas ideias ou difundir seus méritos, o tempo é usado para denegrir e injuriar o adversário, tudo feito com talento e arte dos tais propagandistas, que se envaidecem com o processo de “desconstrução”. O nome é original, mas a conduta é criminosa.
  • É um ultraje alguém entrar na sala de visitas de alguém, sem ser convidado, e lá estando postar-se a dizer inverdades e calúnias em relação a outrem. Nunca pensei que, passado tanto tempo, veríamos a democracia, ser “desconstruída” de forma tão explícita e deprimente, nem que a política chegasse a esse ponto.
  • Mas há um dado que, com desconstrução ou sem ela, enche o plenário atual da nação. É a escolha do presidente da República, entre os dois mais votados no primeiro turno, um deverá ser escolhido. Aécio Neves ou Dilma Rousseff que pleiteia a reeleição (pois por indicação do presidente Luiz Inácio, veio a ser eleita presidente do país). Ambos são definitivos e inalteráveis, salvo em caso de morte ou renúncia. Em tais termos, a este cenário assaz restrito, a escolha do presidente está enterreirada.
  • Ainda neste mês, no domingo _ 26, os brasileiros darão o voto decisivo e irrevogável. Espero que o escolhido esteja à altura dos vastos encargos a enfrentar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário