Artigo Zero Hora
IVAN PINTO
Psicólogo
Dizia Antoine de Saint-Exupéry em sua obra O Pequeno Príncipe: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.
As crianças são, de fato, as que conseguem expressar toda a sua verdade com o coração. As crianças sorriem para qualquer pessoa na rua e até mandam beijo. Não escolhem os brinquedos pela cor azul ou rosa ou pelo gênero de menino ou de menina, elas querem se divertir e isso basta.
Os adultos criaram tantos padrões desmedidos de educação, que impõem medo e insegurança e aos poucos a identidade inocente da criança vai classificando toda sua visão de mundo de forma bivalente: bem e mal, feio e bonito. E, nesse momento, surgem os preconceitos.
As escolhas baseadas nos olhos viciados pelo mundo e no julgamento e não mais no coração.
O diferente assusta, desorganiza em nós a velha ideia do certo e do errado. Tentamos enquadrar tudo o que percebemos no mundo em um determinado modelo e discriminamos o que não se adequar a isso. Os idosos, as minorias étnicas, os deficientes físicos e mentais.
Pessoas que sofrem de certas doenças passam por isso. Um câncer de mama, por exemplo, pode desencadear a perda dos cabelos durante o tratamento e isso motivar olhares de estranhamento.
O preconceito com doenças, associado ao medo de tê-las, dificulta a busca pela prevenção e nos coloca em lugar ainda mais vulnerável.
Mas o que é que vemos de nós mesmos nas doenças? O que é que percebemos de nós mesmos nas diferenças? O homossexual desperta em nós a insegurança em relação a própria condição?
O idoso nos faz “lembrar” que um dia vamos envelhecer? Será que o preconceito é um medo de si mesmo? O bullying na escola é coisa de criança ou a reprodução de um comportamento preconceituoso da própria sociedade?
Independentemente do que motivar o preconceito, ele é sempre uma rejeição da própria sombra e um descuido com as próprias fraquezas: eu não suporto ver no outro os próprios medos e dificuldades.
Não suporto me “desorganizar” perante a diversidade que expressa que minha verdade não é assim tão verdadeira e que o que sou pode não ser tão certo assim.
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