sexta-feira, 17 de outubro de 2014

" Desenvolvimento e Inflação " ??


Artigo Zero Hora
TOMÁS PINHEIRO FIORI
Professor, economista

Recentemente, um colega veio argumentar neste espaço que o atual governo defende a inflação como arma para a manutenção do emprego na economia brasileira, com suposto apoio de gurus acadêmicos. Por não compartilhar das mesmas preferências ideológicas, este colega não leu ou não entendeu o conteúdo dos autores que cita. Em texto de 1961, chamado “o falso dilema entre desenvolvimento econômico e estabilidade monetária”, Raul Prebisch disse: “É frequentemente atribuído a nós, economistas da Cepal, um certo pendor para a inflação, pois seríamos movidos pela convicção de que esse fenômeno é inevitável (…). Nada poderia estar mais distante da nossa maneira de pensar”.
Para invocar (corretamente) Keynes, cabe lembrar que o combate à inflação não se deu apenas pela redução do gasto público, mas pela forte elevação de taxas de juros, com a Selic chegando aos 45% a.a. em março de 1999. Para que a tão sonhada poupança se torne investimento e, logo, emprego e renda, o preço do capital deve ser compatível com níveis esperados de rentabilidade do negócio. Isto é o que Keynes chamou de “princípio da demanda efetiva”. Ao avaliar as vendas “efetivadas”, o empresário fará o seu forecast para o período subsequente e avaliará se, ao custo financeiro vigente (taxa de juro), vale a pena continuar investindo para a ampliação da produção e da produtividade. Simplificando, dizia que quando as vendas estão ruins (como hoje), o Estado é o contrapeso do ciclo negativo, gastando mais para que a expectativa dos produtores continue otimista com relação as vendas futuras. Quando a economia está em plena atividade, isto não é necessário!
O que vimos na última década foi a paulatina redução da taxa básica de juros, enquanto os programas do BNDES, transferência de renda, crédito habitacional etc. impulsionavam a demanda efetiva. Otimistas, empresários tomaram riscos e investiram, ampliando o emprego e a renda média da população. Nesta clave, o momento atual seria para expandir a demanda e não para austeridade. Concorde-se ou não, este é o projeto (neo)desenvolvimentista que tenta se reeleger no dia 26 deste mês.
TOMÁS PINHEIRO FIORI
Professor, economista

 
Recentemente, um colega veio argumentar neste espaço que o atual governo defende a inflação como arma para a manutenção do emprego na economia brasileira, com suposto apoio de gurus acadêmicos. Por não compartilhar das mesmas preferências ideológicas, este colega não leu ou não entendeu o conteúdo dos autores que cita. Em texto de 1961, chamado “o falso dilema entre desenvolvimento econômico e estabilidade monetária”, Raul Prebisch disse: “É frequentemente atribuído a nós, economistas da Cepal, um certo pendor para a inflação, pois seríamos movidos pela convicção de que esse fenômeno é inevitável (…). Nada poderia estar mais distante da nossa maneira de pensar”.


Para invocar (corretamente) Keynes, cabe lembrar que o combate à inflação não se deu apenas pela redução do gasto público, mas pela forte elevação de taxas de juros, com a Selic chegando aos 45% a.a. em março de 1999. Para que a tão sonhada poupança se torne investimento e, logo, emprego e renda, o preço do capital deve ser compatível com níveis esperados de rentabilidade do negócio. Isto é o que Keynes chamou de “princípio da demanda efetiva”. Ao avaliar as vendas “efetivadas”, o empresário fará o seu forecast para o período subsequente e avaliará se, ao custo financeiro vigente (taxa de juro), vale a pena continuar investindo para a ampliação da produção e da produtividade. Simplificando, dizia que quando as vendas estão ruins (como hoje), o Estado é o contrapeso do ciclo negativo, gastando mais para que a expectativa dos produtores continue otimista com relação as vendas futuras. Quando a economia está em plena atividade, isto não é necessário!
O que vimos na última década foi a paulatina redução da taxa básica de juros, enquanto os programas do BNDES, transferência de renda, crédito habitacional etc. impulsionavam a demanda efetiva. Otimistas, empresários tomaram riscos e investiram, ampliando o emprego e a renda média da população. Nesta clave, o momento atual seria para expandir a demanda e não para austeridade. Concorde-se ou não, este é o projeto (neo)desenvolvimentista que tenta se reeleger no dia 26 deste mês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário