Carlos José
Marques*
Passaram-se menos de duas semanas desde
que foi ungido sumo pontífice. E, apesar do curto espaço de tempo de seu papado,
Francisco já fixou uma marca e vem revigorando a imagem do catolicismo. Não há
como ficar indiferente, e não se impressionar, com as opções de Francisco.
Autênticas, ao que tudo indica, foram cultivadas em anos de vida regrada,
hábitos simples e convivência com os mais humildes. O Vaticano começa a se
mover, e a mudar, na cadência de Francisco. Dia a dia ele vem irradiando lições
ao mundo e cativando o interesse geral. Quem não se surpreendeu ao vê-lo
pessoalmente pagar a conta do hotel onde esteve hospedado ao lado dos demais
cardeais antes de ser o escolhido? Ou quando dispensou o carro blindado e seguiu
em um veículo comum de frota da Igreja? Quantos não se comoveram ao vê-lo parar
a comitiva na missa de posse e beijar um fiel enfermo que se encontrava na Praça
São Pedro? Protocolos foram deixados de lado. A pompa e circunstância estão
sendo, gradativamente, revistas nos rituais, cerimônias e práticas cotidianas
intramuros do Vaticano.
"Francisco rejeitou a suntuosidade dos
aposentos
oficiais – “aqui daria para morar 300
pessoas”,
teria dito – e ocupará uma pequena ala."
Francisco rejeitou a suntuosidade dos aposentos
oficiais – “aqui daria para morar 300 pessoas”, teria dito – e ocupará uma
pequena ala. Dispensou o trono papal e o substituiu por uma cadeira talhada em
madeira. Recusou a estola bordada a ouro em seus trajes e seguiu calçando o
velho e surrado sapato preto que usava em missões nas comunidades carentes. Nada
de modelito tipo Prada do antecessor Bento XVI. Nem mesmo a opulência dos
crucifixos cravejados de pedras preciosas. Francisco não quis sequer o anel de
ouro – símbolo do poder católico – e mandou confeccioná-lo em prata, banhado de
dourado. Para Francisco, como registrou na missa inaugural do pontificado,
diante de uma plateia de ilustres convidados e chefes de Estado, “o verdadeiro
poder é o serviço”. A homilia, repleta de apelos em prol dos mais pobres, serviu
para sacramentar sua opção. E aos que duvidavam do desejo do novo papa de
enfrentar os mais delicados e caros assuntos da Santa Sé, vale observar ao menos
a reação que ele teria tido no breve encontro dias atrás com o arcebispo emérito
de Boston, Bernard Lah, acusado de acobertar padres pedófilos americanos. Ao
cardeal, que depois da denúncia foi transferido e ficou recluso em trabalhos
administrativos na basílica Santa Maria Maggiore, no coração de Roma, pediu que
se retirasse e que não voltasse mais àquela igreja. Ao seu jeito, com carisma e
firmeza, Francisco está sacudindo alicerces e plantando as novas estacas da fé.
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* Diretor editorial
Fonte:
http://www.istoe.com.br/assuntos/editorial/detalhe/285175_O+CA
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