sábado, 9 de março de 2013

" Exclamações " , por Nilson Souza


Ganhei de presente de um generoso integrante do nosso Conselho de Leitores um marcador de páginas, objeto tão singelo quanto pouco utilizado no mundo digital em que vivemos. Para quem lê apenas na tela luminosa do computador ou nos chamados smartphones, esses aparelhos portáteis que nos permitem falar com amigos distantes (e ignorar os que estão nas proximidades), trocar mensagens e consultar qualquer coisa na internet, o pedacinho de papel tem pouco significado.

Para um velho rato de biblioteca como eu, porém, é um objeto precioso. Especialmente este, que ostenta como ilustração um grande ponto de exclamação acompanhado de mensagem pra lá de significativa: “A exclamação é como uma roupa especial: é só colocar para deixar tudo mais vibrante”.

Propaganda de uma livraria, o papelucho tem ainda uma frase exclamativa apropriada para a ocasião:

– Transforme períodos simples do dia em exclamações!

Comecei a praticar no mesmo instante:

– Obrigado! – disse ao homem, forçando um pouco a tonalidade da última sílaba, para que ele percebesse a pontuação. Em seguida, a pedido de outras pessoas que estavam na mesa, li em voz alta o conteúdo da mensagem. Uma senhora presente exclamou sem qualquer intenção de fazer graça:

– Que lindo!

E dizer que o ponto de exclamação já esteve praticamente abolido nas Redações de jornais! Em mais de um manual de redação jornalística constam advertências desse tipo: “Por ser um sinal de pontuação que veicula ordens ou uma forte carga emotiva, nunca deve ser utilizado pelos jornalistas em textos noticiosos, e muito menos em títulos.

A força de um acontecimento jornalístico deve ser decorrência da própria dramaticidade e não de recursos de estilo”. Trabalhei certa vez numa publicação em que o referido sinal gráfico só podia ser utilizado com autorização expressa do diretor. Haja autoritarismo!

Como expressar surpresa, indignação, admiração, entusiasmo, súplica ou ordem sem grafar o simpático ponto exclamativo que, segundo o poeta João Cabral de Melo Neto, tem alma dionisíaca? E olhem que não me considero um exclamador habitual. Sou bastante contido quanto a manifestar emoções e detesto dar ordens. Economizo até mesmo interjeições.

No máximo, deixo escapar um “Ufa!” quando estou muito cansado. E guardo sempre no fundo da alma uma outra, já meio antiga, para manifestar alegria e gratidão pelo carinho dos meus leitores.

                                        Maravilha!

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