HUBERT ALQUÉRES
Para que lado penderão os brasileiros?
O desencanto dos brasileiros poderá se traduzir no crescimento do voto nulo ou numa grande votação dos tiriricas e felicianos da vida O ano de 2013 ficará marcado como aquele em que o gigante ameaçou despertar, mas voltou a hibernar. Até quando, não se sabe. É possível que acorde ainda antes das eleições. Mas isso, por enquanto, é apenas uma hipótese.
Vivemos uma situação aparentemente contraditória: de um lado, o governo Dilma recuperou parte de sua popularidade, ainda que longe de antigos índices estratosféricos; de outro, pesquisas indicam o desejo de mudança dos brasileiros. O que será, portanto, do amanhã?
Essa contradição se manifesta ainda da seguinte maneira: o modelo dos últimos dez anos dá sinais de esgotamento. Mas não surgiu, ainda, uma alternativa a ele.
É visível o cansaço dos brasileiros com os péssimos serviços públicos, com o crescimento econômico pífio e com um modelo de governabilidade baseado em patrimonialismo e fisiologismo pelos partidos da base aliada e na cooptação dos sindicatos e movimentos populares.
Mas esse cansaço --responsável pela memorável jornada popular de junho-- não encontrou seu catalisador. Daí o retraimento das manifestações populares. O novo que apareceu foi a não-alternativa: os "black blocs". O niilismo predatório desse "movimento" só contribuiu para afastar os manifestantes das ruas. É possível que tenha vida curta. Em última análise, suas ações facilitaram a vida da presidente Dilma, pois só serviram para arrefecer o clamor popular. A presidente tomou iniciativas, a maioria midiática, que lhe possibilitou recuperar parte do prestígio perdido.
Isso não esconde, contudo, um fato cristalino: vivemos o fim de uma era e quem quer que seja o presidente eleito em 2014, este será obrigado a dar um brutal freio de arrumação na economia, tais os enormes desacertos econômicos cometidos pelo governo Dilma. Inevitavelmente, virá um novo modelo baseado no estímulo aos investimentos e no controle rígido da inflação e dos gastos do governo.
A presidente tem consciência de que não há mais tempo para mudanças no atual mandato. Daí a sua estratégia de protelar decisões e manter a conjuntura sem maiores turbulências para tentar decidir a parada presidencial já no primeiro turno. É essencial criar o clima do "já ganhou". Se tiver que enfrentar uma segunda rodada eleitoral, correrá sério riscos de não se reeleger.
Já a oposição tem que fazer propostas capazes de galvanizar o sentimento de mudança da esmagadora maioria dos brasileiros. Hoje há uma concorrência desigual. Apenas a presidente está em campanha.
O jogo será menos desigual quando começar a corrida eleitoral. Não está escrito nas estrelas para qual lado os brasileiros penderão. Suas insatisfações abrem espaço para tudo. Inclusive para um candidato outsider com respeitabilidade na sociedade. O desencanto poderá se traduzir ainda no crescimento do voto nulo ou numa grande votação dos tiriricas e felicianos da vida.
Mas isso também é mera hipótese. De uma hora para outra, os brasileiros poderão achar o caminho e fazer da eleição uma oportunidade para o nascimento do novo.
HUBERT ALQUÉRES, 52, engenheiro, é vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro e membro do Conselho Estadual de Educação. Foi presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (2003-2011)
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