L. F. Veríssimo*
O poeta inglês Rupert Brooke morreu durante a I Guerra Mundial. Era moço, bonito e um poeta passável. Morreu em 1915, um ano depois do começo da guerra. Num dos seus poemas, intitulado O Soldado, ele tinha escrito: “Se eu morrer, pense apenas isto de mim: que há uma cova num campo estrangeiro que será, para sempre, a Inglaterra”.
Brooke ficou como uma espécie de símbolo da juventude inglesa dizimada pela guerra de 14, toda uma geração, incluindo os seus poetas, que não voltou das trincheiras. A única coisa errada nesta história convenientemente romântica é que Brooke morreu durante a I Guerra, mas não na I Guerra. Foi vítima de uma infecção causada por uma picada de mosquito, sem nunca ter estado numa trincheira.
Se Rupert Brooke não serve como herói romântico e representante de uma geração destruída, serve como símbolo de todos os enganos que levaram à carnificina da chamada Grande Guerra, quando milhões morreram sem saber bem por quê.
Visto em retrospecto, o mais impressionante na I Guerra, cujo centenário se comemora neste ano, é o volume de mal-entendidos, mesquinhez e simples burrice que tornou inevitável um conflito, no fim, por nada. Alguns impérios agonizantes ruíram, algumas fronteiras foram redesenhadas, alguns orgulhos nacionais foram servidos – nada que valesse a vida de um só poeta. A Primeirona funcionou como campo de prova de novas tecnologias de guerra (o avião, o tanque, a metralhadora, o gás venenoso) e deixou tantas questões políticas pendentes, que tornou inevitável, também, a Segundona. E deixou o novo material bélico pronto para essa outra carnificina.
Já se disse que guerra é uma coisa importante demais para ser confiada a generais, mas, no caso da I Guerra Mundial, governantes e diplomatas completaram a incompetência mortal dos militares. Foi um mau momento da nossa história como espécie racional, uma apoteose da estupidez humana. Que, com a glorificação literária de sacrifícios como o de Brooke (esquecido o detalhe do mosquito) e outros poetas, também ganhou a bênção de intelectuais, para os quais a guerra, menos do que uma tragédia, foi um ritual de passagem que enriqueceu as letras inglesas e europeias, substituindo o idealismo do século 19 pelo ceticismo moderno. E o mais triste – visto desta distância – é que tudo poderia ter sido evitado.
Brooke, como na previsão do soldado do seu poema, foi enterrado num campo estrangeiro, em Skyros, na Grécia. Mas há uma lápide com seu nome no Westminster Abbey, em Londres. A inscrição na lápide é de outro poeta, Wilfred Owen, este um autêntico sacrificado pela Primeirona: “Eu escrevo sobre a guerra, e o lamento da guerra. A poesia está no lamento”.
Brooke ficou como uma espécie de símbolo da juventude inglesa dizimada pela guerra de 14, toda uma geração, incluindo os seus poetas, que não voltou das trincheiras. A única coisa errada nesta história convenientemente romântica é que Brooke morreu durante a I Guerra, mas não na I Guerra. Foi vítima de uma infecção causada por uma picada de mosquito, sem nunca ter estado numa trincheira.
Se Rupert Brooke não serve como herói romântico e representante de uma geração destruída, serve como símbolo de todos os enganos que levaram à carnificina da chamada Grande Guerra, quando milhões morreram sem saber bem por quê.
Visto em retrospecto, o mais impressionante na I Guerra, cujo centenário se comemora neste ano, é o volume de mal-entendidos, mesquinhez e simples burrice que tornou inevitável um conflito, no fim, por nada. Alguns impérios agonizantes ruíram, algumas fronteiras foram redesenhadas, alguns orgulhos nacionais foram servidos – nada que valesse a vida de um só poeta. A Primeirona funcionou como campo de prova de novas tecnologias de guerra (o avião, o tanque, a metralhadora, o gás venenoso) e deixou tantas questões políticas pendentes, que tornou inevitável, também, a Segundona. E deixou o novo material bélico pronto para essa outra carnificina.
Já se disse que guerra é uma coisa importante demais para ser confiada a generais, mas, no caso da I Guerra Mundial, governantes e diplomatas completaram a incompetência mortal dos militares. Foi um mau momento da nossa história como espécie racional, uma apoteose da estupidez humana. Que, com a glorificação literária de sacrifícios como o de Brooke (esquecido o detalhe do mosquito) e outros poetas, também ganhou a bênção de intelectuais, para os quais a guerra, menos do que uma tragédia, foi um ritual de passagem que enriqueceu as letras inglesas e europeias, substituindo o idealismo do século 19 pelo ceticismo moderno. E o mais triste – visto desta distância – é que tudo poderia ter sido evitado.
Brooke, como na previsão do soldado do seu poema, foi enterrado num campo estrangeiro, em Skyros, na Grécia. Mas há uma lápide com seu nome no Westminster Abbey, em Londres. A inscrição na lápide é de outro poeta, Wilfred Owen, este um autêntico sacrificado pela Primeirona: “Eu escrevo sobre a guerra, e o lamento da guerra. A poesia está no lamento”.
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* Luis Fernando Veríssimo é escritor, jornalista, cronista da ZH
Fonte: ZH online, 30/01/2014
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