A aplicação do amor romântico tem sofrido modificações de acordo com a evolução da sociedade. Atualmente estamos com a alta da internet e a questão fica pairando: terá sido o amor banalizado a cada "curtida"?
Faz anos desde que recebi uma carta. Sou da geração 90, que aproveitou a adolescência com doses de tudo aquilo que pode corromper a mente: internet em excesso, música de procedência duvidosa e um salário mínimo que lhe permite tomar muita Coca-Cola.
Nisso o bom e velho hábito de escrever cartas, selecionar músicas, buscar livros, escolher amigos, foi-se embora com a facilidade de ter tudo vomitado e de fácil digestão. Assim como o entretenimento, as relações foram fortemente comprometidas com o advento tecnológico.
Em alguns momentos da minha vida eu apenas não me dava ao trabalho de sair de casa, conversava pelo Skype com o namorado, contava a última para a amiga pelo falecido MSN e lia a dica da semana no Orkut. Quem acha que a nova moda "selfie" é nova, nunca teve a felicidade de ter o Fotolog, onde meninas pintavam o cabelo de azul e tiravam fotos em parquinhos.
Mas nada foi tão comprometido com toda a quinquilharia de sites e redes sociais como o flerte, namoro, casamento e a separação finalmente causada pelo Facebook. Tantas formas de exibir a vida fizeram disso uma moda. A moda da exibição de felicidade gratuita ou depressão justificada.
Namorar hoje em dia é um desgaste incrível, porque não basta ter aquela graninha do sorvete de domingo, umas notas para uma viagem uma vez por bimestre ou um anel de prata, bons poemas na ponta da língua e a conversa com a família aos domingos, agora é necessário declarações de amor constantes, fotos fofas e uma constante verificação de como anda a timeline do parceiro(a). Infantil ou não, é algo real na vida de muitos.
Brigas são resolvidas pelo velho modo: na base da indireta e ironia, o problema que é em público, para muitos curtirem ou retuitarem. Em que momento a privacidade se perdeu porque não demos devido valor a ela? E exatamente quando os relacionamentos e o suposto amor vai embora pelo mesmo ralo?
O BBB é um dos programas mais xingados, quase todo mundo já mandou aquela frase chave "Vá ler um livro, não veja BBB", porém, ele faz sucesso porque nós gostamos de cuidar da vida um do outro. Conseguiram ter a ideia genial de um programa onde é permitido e é fácil criticar, julgar, apontar e não ser revidado por isso. Aquilo também é a perfeita imagem do que somos.
Se relações humanas, se o máximo da intimidade - que acredito ser o enlace amoroso - pode ser tratado de forma tão banal e aberta a um público que nem sempre deseja a felicidade, estamos realmente nos importando com o futuro de algo? Acredito que não. Não há futuro, há um presente imediato onde se faz necessário a felicidade ou a reclamação constante, porque o importante é compartilhar.
Sinto algumas vezes por dia que queria ter nascido numa época diferente ou numa outra versão do que temos. Queria ter a minha disposição tudo que a internet proporcionou: livros, informação, escrita eficiente para milhares de pessoas xingarem e opinarem, contato com pessoas distantes e um diálogo leve e interessante com qualquer um, em qualquer lugar do mundo, mas também queria uma boa conversa de beira de rua, uma briga em quatro paredes com direito a gritinhos histéricos, ter amigos reais e amar sem aparências.
Tenho verdadeiro medo do que seremos daqui 10 anos, do que a história de Platão terá sido transformada. Em O Banquete, o filósofo conta de seres separados pela ira, que viviam uma vida pela procura da outra metade, que morriam de tristeza diante da solidão. O conto sobre o amor verdadeiro pode ser a história mais ridícula já contada, mas pelo menos lá o ser humano era só sem sua outra metade.
Aqui temos pessoas unidas na solidão.
----------------------------------
Nenhum comentário:
Postar um comentário