Pedro Gonzaga
Não poucas vezes, quando os alunos me perguntam o que caracteriza a crônica como gênero, respondo que é sua ligação evidente com o tempo, que está em seu próprio nome, mas com um tipo especial de tempo, não com aquele tempo de caráter mais profundo e filosófico (tema das grandes obras artísticas, está aí A Grande Beleza ainda em cartaz), mas com o tempo em seu caráter mundano, diário, jornalístico. Daí porque – excetuadas as crônicas voltadas para o passado, tantas vezes úmidas de melancólica nostalgia – o tom é sempre coloquial, de bar (crônica leve ou de humor), ou de café (crônica investigativa ou de tese).
Concordo, é uma definição bastante esquálida, mas estamos conversando, acabamos de sair do cinema e fomos tomar um chope para escapar à noite sem vento em Porto Alegre. Pensando bem, eu diria que faltou uma categoria acima, perigosa mistura das duas anteriores, tão em voga hoje em dia: a crônica “tese de botequim”, perigosa justamente pela seriedade de que se reveste o cronista para tratar de um assunto cujo domínio muitas vezes lhe escapa.
Vejamos. Pegássemos agora o que foi dito afoitamente sobre as manifestações do ano passado e já veríamos o quão tolas (e por que não equivocadas) podem ser as conclusões definitivas. O mesmo valeria agora para o rolezinho, não lhes parece? Quantas certezas, quantas frases lapidares, quantas candidaturas a porta-voz das ruas.
A meu ver, quase tudo botequinaço, encoberto pelo tom professoral de supostos entendidos, que não conversam, mas discursam; que não debatem, mas monopolizam. Esse erro de registro, o tempo logo se encarrega de denunciar. Essa arrogância já agora visível na elocução das crônicas amanhã estará obsoleta. Enquanto isso, continuaremos conversando levemente, sem cara feia para quem interromper a seriedade de um assunto para discutir se o colarinho deve ter um ou dois dedos de espessura. A democracia, se de fato é possível experimentá-la, existe em torno de uma grande mesa, cercada de amigos.
A eternidade seria um lugar tolerável somente em torno dessas mesas animadas. Livres associações, divergências, argumentos passionais, pilhérias, xingamentos, amor. Porque o resto é a burocracia do cotidiano, a malfadada missão civil e a alienação de que seremos acusados. Saúde.
Não poucas vezes, quando os alunos me perguntam o que caracteriza a crônica como gênero, respondo que é sua ligação evidente com o tempo, que está em seu próprio nome, mas com um tipo especial de tempo, não com aquele tempo de caráter mais profundo e filosófico (tema das grandes obras artísticas, está aí A Grande Beleza ainda em cartaz), mas com o tempo em seu caráter mundano, diário, jornalístico. Daí porque – excetuadas as crônicas voltadas para o passado, tantas vezes úmidas de melancólica nostalgia – o tom é sempre coloquial, de bar (crônica leve ou de humor), ou de café (crônica investigativa ou de tese).
Concordo, é uma definição bastante esquálida, mas estamos conversando, acabamos de sair do cinema e fomos tomar um chope para escapar à noite sem vento em Porto Alegre. Pensando bem, eu diria que faltou uma categoria acima, perigosa mistura das duas anteriores, tão em voga hoje em dia: a crônica “tese de botequim”, perigosa justamente pela seriedade de que se reveste o cronista para tratar de um assunto cujo domínio muitas vezes lhe escapa.
Vejamos. Pegássemos agora o que foi dito afoitamente sobre as manifestações do ano passado e já veríamos o quão tolas (e por que não equivocadas) podem ser as conclusões definitivas. O mesmo valeria agora para o rolezinho, não lhes parece? Quantas certezas, quantas frases lapidares, quantas candidaturas a porta-voz das ruas.
A meu ver, quase tudo botequinaço, encoberto pelo tom professoral de supostos entendidos, que não conversam, mas discursam; que não debatem, mas monopolizam. Esse erro de registro, o tempo logo se encarrega de denunciar. Essa arrogância já agora visível na elocução das crônicas amanhã estará obsoleta. Enquanto isso, continuaremos conversando levemente, sem cara feia para quem interromper a seriedade de um assunto para discutir se o colarinho deve ter um ou dois dedos de espessura. A democracia, se de fato é possível experimentá-la, existe em torno de uma grande mesa, cercada de amigos.
A eternidade seria um lugar tolerável somente em torno dessas mesas animadas. Livres associações, divergências, argumentos passionais, pilhérias, xingamentos, amor. Porque o resto é a burocracia do cotidiano, a malfadada missão civil e a alienação de que seremos acusados. Saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário