Eu gosto de ser mãe de adolescente, mais do que gostei de ser mãe de bebê ou de criança pequena. Se fosse possível isolar as diferentes habilidades que a maternidade exige ao longo dos anos, diria que o meu forte está em genuinamente gostar de conviver e conversar com adolescentes.
Há algo especialmente intenso nesse período que parece deixar mais evidente a passagem de bastão de uma geração para a outra. Isso porque coexistem, no adolescente, tanto os traços da sua origem familiar quanto os primeiros sinais do adulto que ele pode vir a ser. Se os recém-nascidos representam a espantosa capacidade da vida biológica de se renovar, reunindo características de duas pessoas em uma terceira novinha em folha, os adolescentes nos lembram que temperamentos, ideias e emoções também se misturam, se recombinam e resultam em um ser humano 100% inédito – que por sua vez vai colocar em ação essa combinação única em um mundo completamente diferente daquele que seus pais e avós conheceram. Adolescentes já não estão totalmente sob a tutela dos adultos, mas ainda não são independentes. Equilibram-se entre o passado, que somos nós, e o futuro, onde estaremos apenas em parte.
Conviver com adultos em formação, porém, pode provocar sentimentos ambíguos. Filhos adolescentes nos levam a reviver a nossa própria adolescência e tudo aquilo que imaginamos que poderíamos ter feito de outro jeito. Uma parte de nós, às vezes não tão pequena, mal consegue disfarçar a nostalgia da época em que tudo ainda estava por acontecer: o amor, a profissão, a melhor versão de nós mesmos. E o que em geral nos ajuda a aceitar a vertiginosa e irreversível passagem do tempo é exatamente aquilo em que nossos filhos nem sempre parecem interessados: as duas ou três coisas que aprendemos até aqui e que ficaríamos muito felizes de poder compartilhar. (Na verdade, é quando menos imaginamos que mais eles estão aprendendo conosco. São eles que decidem a parte de nós que querem guardar para o resto da vida – e não o contrário.)
Nos próximos meses, vou ficar longe da minha adolescente pela primeira vez. Enquanto ela estiver estudando fora, caberá a esta mãe aprender a ficar calma e a sentir-se menos necessária. Seria bom se houvesse algum tipo de certificado garantindo que estamos prontos para as situações inéditas, mas isso só existe na fantasia que os adolescentes têm a respeito do mundo dos adultos. Na vida real, nunca deixamos de ser como atores estreantes diante de um palco vazio e uma plateia inquieta. Quando estamos mais distraídos, vem alguém e nos empurra para dentro da cena gritando que o espetáculo já começou. Se é assim, que venha o primeiro ato – e que seja um sucesso.
Boa viagem para nós, Pi!
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