sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Rolezinhos nos shoppings do Brasil se proliferam e chegam à imprensa europeia


Domingo passado, em um shopping paulista, os seguranças chegaram a mostrar a arma para os manifestantes do rolezinho
Domingo passado, em um shopping paulista, os seguranças chegaram a mostrar
a arma para os manifestantes do rolezinho

O ‘rolezinho’, forma de manifestação de jovens pobres, da periferia dos grandes centros urbanos no Brasil, foi assunto no vetusto diário parisiense Le Monde, nesta quinta-feira. Na matéria, intitulada “No Brasil, o verão dos ‘rolezinhos’: a erupção da juventude pobre nos shoppings”, o jornal sublinha que o ambiente climatizado dos centros comerciais, em um país de temperaturas altíssimas, leva os moradores “das favelas e das periferias” a protestar contra “a perpetuação da segragação social em um espaço protegido”.

Certos analistas ouvidos pela reportagem do Le Monde chegaram a comparar os ‘rolezinhos’ ao ‘funk de ostentação’, uma outra forma de manifesto no qual os integrantes exibem seus gostos por artigos de luxo, mas repara que, nessa versão, os meninos e meninas que integram o movimento “transgridem as regras não escritas do apartheid social, que reserva os centros comerciais à classe média e seus privilégios à minoria branca”.

A matéria, ao justificar a existência de um racismo latente no Brasil, cita o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) e o romancista Jorge Amado (1912-2001) e lembra que “os brasileiros pretendiam que sua nação fosse um paraíso social, um exemplo de miscegenação racial, mas o mito da democracia social se mostra um caminho muito duro”.

“Se um branco corre na rua, ele é um atleta, mas se um negro passa correndo, é um marginal: ‘Cada macaco no seu galho’, diz um ditado muito popular no Brasil”, afirma a reportagem. O diário percebeu, também, o dilema das autoridades para reprimir o rolezinho. Segundo o jornal, “o ‘rolezinho’ é justamente um desafio às convenções e ao decoro exigidos, mas não ditos claramente. Os comerciantes e os policiais reagiram à erupção dos jovens com repressão, sob o pretexto que eles assustam os clientes das lojas e perturbam a ordem pública.

Estes mesmos argumentos foram utilizados para que até a principal rede social do país, o Facebook, passasse a censurar os convites para ‘rolezinhos’, nas principais capitais do país. A reação, no entanto, foi imediata. Nesta manhã, mais de 10 convites foram publicados, um deles contra o próprio Facebook: “A pedido da Associação Brasileira de Shopping Centers, Facebook está tirando do ar convites para rolezinhos em shopping center. O Facebook agora imita os ditadores e manda tirar do ar os convites que não lhe agradam. Convide seus amigos para dizer não à censura do Facebook. /// Facebook: nós estamos de saco cheio de censura à liberdade de expressão”, diz o texto do convite para o evento, marcado às 12h de segunda-feira, em todo o país. Apenas alguns minutos depois de publicado, mais de 100 pessoas já haviam confirmado presença.

O pedido para que o Facebook tirasse do ar as páginas criadas por usuários da rede social para a realização de rolezinhos em shoppings de São Paulo partiu do presidente da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), Luiz Fernando Veiga. Ele não soube informar que centros comerciais conseguiram a retirada e se eles recorreram à Justiça, mas afirmou que as páginas continham ameaças.

– Naquelas programações de eventos de rolezinhos havia atitudes absolutamente criminosas e ilegais, como incentivo ao uso de maconha, a entupir os vasos sanitários e a interromper as escadas rolantes – disse o comerciante. Procurado pela reportagem do Correio do Brasil, o Facebook não confirmou, ou negou, a remoção de páginas.

O fato é que representantes de 55 shoppings da Grande São Paulo reuniram-se, na tarde desta quarta-feira, na capital paulista para discutir medidas de prevenção contra os ‘rolezinhos’. Veiga também afirmou que não há consenso sobre a possibilidade de os shoppings recorrerem à Justiça para exigir dos frequentadores a apresentação de documento na entrada dos centros, mas alega que a medida, adotada no último sábado, pelo Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, não é discriminatória.
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Por redação de São Paulo
Fonte:http://correiodobrasil.com.br/16/01/2014

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