Queria ser um madrugador. Acordar com o chilrear dos pintassilgos, quando toda a cidade ainda dorme. E, por favor, não me venha um conhecedor de pássaros dizer que os pintassilgos não chilreiam nas árvores de Porto Alegre, não destrocem a minha fantasia.
Então. Os pintassilgos chilreiam e acordo bem disposto. Ligo o radinho de pilha, vou para a cozinha e preparo o mate. Sorvo o mate devagar, à mesa da cozinha, de frente para a janela, olhando para a linha do horizonte que vai clareando aos poucos.
Alguém um dia disse que o mate ajuda o gaúcho a pensar. Gosto disso. Imagino-me tomando mate e pensando no mundo e balançando a cabeça lentamente depois de ter chegado a alguma conclusão inteligente sobre a existência.
Sei que, no meu caso, o mais difícil é chegar a alguma conclusão inteligente sobre a existência, mas me contento com o mate e o olhar no vazio e o chilrear dos pintassilgos e o som do radinho de pilha. Uma manhã calma. Contento-me com uma manhã calma.
Mas o fato é que não sou um madrugador. Hoje em dia, devido às responsabilidades, malditas responsabilidades, até acordo relativamente cedo, só que nunca, jamais!, com o chilrear dos pintassilgos, quando toda a cidade ainda dorme, e muito menos em dias como esses que enfrentamos há pouco aqui na cunha meridional do Brasil: seis dias inteiros sem que o sol aparecesse.
Que fique registrado, imortalizado em papel: durante seis dias de agosto de 2013, o sol não apareceu no sul do Brasil. As pessoas se lembram do que faziam quando dois aviões despedaçaram as Torres Gêmeas ou quando foi posto abaixo o Muro de Berlim, pois eu lembrarei para sempre que, em agosto de 2013, o sol não iluminou Porto Alegre durante seis dias inteiros.
Seis dias inteiros.
Por isso, ao ler as previsões do tempo e saber que o sol, enfim, voltaria a luzir sobre a cidade nesta semana, decidi: neste dia da volta do sol, vou acordar com os pássaros e tomar mate e fruir a manhã. Vou ser, por um dia, o madrugador que sempre quis ser.
E foi o que fiz. Na quarta-feira, bem cedo, fazia muito frio e eu já estava de pé. Fui para a cozinha. Liguei o rádio. Preparei o mate.
A manhã estava silenciosa; o ar, fino. Sentei-me à mesa da cozinha e olhei para a janela. Não pensava em nada, apenas olhava. E lá adiante, no horizonte, ele, o sol, surgiu depois de tanto tempo. Foi-se erguendo e iluminou o céu, fez abrir o dia e, sim, os passarinhos cantaram e, só por isso, fiquei feliz.
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