domingo, 11 de agosto de 2013

" Indignação " - Brasil Mostra a tua Cara...




Através deste texto busco manifestar minha indignação em relação ao acidente ocorrido em 28 de julho de 2013, entre Almirante Tamandaré e Chapada, que envolveu meu filho Roberto Piva Paim e sua namorada Natália Farinon.

Por volta das 12.20 horas começou o nosso filme de horror. Ao chegar ao local do acidente já presenciamos os dois veículos totalmente destruídos; o condutor do Gol teve morte instantânea e meu filho ficou preso nas ferragens do Peugeot, estando consciente o tempo todo.

Em seguida foi acionado o Samu de Chapada e BM. Em 15 minutos, aproximadamente, chegou a Brigada, e logo depois o Samu com sua equipe de Anjos da Guarda. Feitos os levantamentos preliminares, a equipe constatou o óbito do condutor do Gol, e começaram a estabilizar os sinais de meu filho.

Neste momento é indescritível a dor, o desespero, a impotência de um pai e uma mãe vendo e assistindo todo este quadro, nada podendo fazer! Dada a violência do choque, a equipe constatou que as pernas do nosso filho estavam presas nas ferragens, e, portanto, teríamos que acionar os bombeiros de Carazinho. Nesse momento começou o nosso maior martírio: Carazinho fica a 40 km de distância, os bombeiros teriam que se deslocar de caminhão, o que levaria mais tempo. Novo martírio!

Nosso filho estava perdendo muito sangue e começou a desestabilizar. A frequência cardíaca, a pressão arterial estavam descompassadas. A enfermeira do Samu ia fazendo o que podia. Nestas alturas, já tínhamos acionado o Samu de Carazinho que orientava, através do rádio, a enfermeira nos procedimentos a tomar. O médico do Samu de Carazinho, Dr. Vinicius Basegio, fez-se presente nestas orientações e assumiu os cuidados de socorro ao chegar no local do acidente.

Pois, sim, passados uns 40 minutos do acidente, chegou o Samu de Carazinho e, junto, a notícia aterrorizadora de que o caminhão dos bombeiros tinha quebrado no pedágio de Carazinho, sem condições de prosseguir. Desnecessário expressar o desespero que Ana e eu passamos.

Para nossa surpresa, alegria, esperança, meu cunhado Fioravante A. Piva, que estava no hospital nos aguardando, dada a demora em chegarmos, resolveu se locomover até o local e, ao chegar ao pedágio, deparou com carro de bombeiros quebrado. Imediatamente, colocaram o equipamento dos bombeiros no veículo e, com os três valorosos bombeiros, saíram em disparada para o local do acidente.

Já se passava uma hora e 20 minutos aproximadamente. Tínhamos tentado arrancar a porta esquerda do carro para ter acesso ao meu filho. Nas ambulâncias do Samu, existe um equipamento desmesuradamente poderoso, de última geração e tecnologia avançada, para acidentes de trânsito:“um pé de cabra” . Esta era a única ferramenta existente que dispúnhamos no local para desvencilhar meu filho das ferragens. Chegaram os bombeiros, aproximadamente duas horas depois do acidente.

Aí, começou uma luta heroica de três bombeiros. Pessimamente equipados, com ferramentas obsoletas e sucateadas, iniciaram uma luta que eu jamais havia visto. Com coragem, audácia e extrema vontade. Parecia que o filho era deles. Escrevendo agora me ocorre: Pedro Bial chama os patéticos participantes do BBB de “meus heróis”.

Isto me enoja, envergonha, pois, o que dizer destes verdadeiros super-homens? Bombeiros, enfermeiros, médicos. Como escolher um adjetivo para nominar estas pessoas, quase sempre mal remuneradas, mal equipadas, e que se superam pela vontade única de “salvar vidas”?

Pois bem, após duas horas e meia, finalmente nosso filho pôde ser retirado das ferragens, já com hipotermia, tendo perdido muito sangue, mas rumo ao hospital para os primeiros socorros.

LIÇÕES QUE FICAM

1) As instituições públicas do nosso país estão totalmente falidas e sucateadas, e nós nada fazemos.

2) Temos que fazer algo, chega de calar e resignar-se com pouco ou quase nada. Hoje foi o nosso filho. E amanhã?

3) O governo fala em importar médicos, isto deve ser brincadeira, vamos sim, importar caminhões de bombeiros, equipamentos para acidentes de última geração, ferramentas, para o bom desempenho destes anjos do asfalto. Gente boa nós temos. Necessitamos dar condições para qualificar o trabalho destes bons profissionais.

4) Chega, basta de corrupção! Tanta safadeza, o dinheiro que nos roubam e, nestas horas que precisamos, faz tanta falta. Quando a dor cala, o desespero nos consome.

5) Precisamos de leis mais severas: como pode um condutor de veículos trafegar mais de dois anos sem CNH? Como pode um veículo ser emplacado por uma pessoa sem a devida habilitação?

6) São perguntas sem respostas. Chega de inércia! Vamos reagir, pois, se nos rebelarmos, algo terá que mudar.

Agradecimentos:

1) Primeiro aos nossos anjos do asfalto: BM, Samu, bombeiros. Sem eles não sei o que seria de nosso filho. Aos médicos: Vinicius Basegio, Werner Schambach, Paulo Catapan, Macedo, que ofereceram os primeiros socorros e o primeiro apoio. Também aos inúmeros seres humanos que, na madrugada fria, auxiliaram com telefonemas, força e carinho.

2) O apoio incondicional de meus irmãos da maçonaria mediante solidariedade, aos doadores de sangue, na maioria anônimos. Nossa gratidão ao amigo Luciano, ao nominá-lo faço-o a todos, que, de uma maneira ou outra, estiveram nos apoiando. Não tem como agradecer a todos nominalmente.

3) O HCC de Carazinho, pelo pronto atendimento, e ao HSVP, pelo ótimo atendimento, e aos médicos de Passo Fundo que, com muito esforço, profissionalismo e dedicação, estão atendendo nosso filho. Por fim, deste acidente resultou: fraturas expostas do fêmur, fratura na cabeça do fêmur, fratura no cóccix, fraturas de coluna, fraturas de diversas costelas, lesão na cervical, edema pulmonar.

É com meus irmãos que quero compartilhar esta dor que sinto. Esta revolta que não passa. É grande a impotência que sinto. Sozinho, nada vou mudar neste país. Nossas autoridades estão pouco ligando para nossos anseios, e nossas necessidades são prementes de mudanças já.

Finalmente, em meio a este filme de horror nos momentos mais difíceis, relembro meu filho Roberto, ainda preso nas ferragens me pedindo: “PAI. ME ABRAÇA FORTE”. Prontamente o fiz, e ao meu ouvido ele sussurrava:

“PAI. EU TE AMO TANTO, TANTO, TANTO...”

Eu também amo muito meu filho. Como todos os pais devem amar seus filhos. E, por isto mesmo, precisamos lutar pelo futuro destes pais.

Porque nossos filhos merecem!

Roberto Paim.”
 
 

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