Montserrat Martins*
Antigamente o conceito de doença era simplista, na base da relação causa-efeito: bacilo de Koch causa tuberculose, pneumococo causa pneumonia, alcoolismo leva à cirrose, etc. Com a evolução da Medicina e das pesquisas em etiologia (da causa das doenças), foram ficando mais claras as influências dos vários fatores que afetam à saúde. Do papel fundamental do sistema imunológico, para começar, que para darmos um exemplo dramático chega ao ponto de algumas pessoas terem o vírus da Aids mas não desenvolverem a doença. Do sistema nervoso, evidenciado no fato do stress ser um complicador dos problemas cardiovasculares. Do emocional, como no caso da depressão que é um fator de inibição do sistema imunológico.
Vendo a saúde num sentido mais amplo, de saúde pública, os fatores se multiplicam: as questões sanitárias influindo na epidemiologia das doenças infecciosas-parasitárias como a dengue, as condições econômicas influindo nas condições de vida que geram outros fatores etiológicos, o organização do sistema de saúde para oferecer (ou não) medicina preventiva. Seria fácil culpar o governo pelo que deixa de oferecer – e essa cobrança tem de ser feita, para que a saúde seja prioridade – mas os problemas de atendimento à saúde pública estão presentes mesmo em países mais desenvolvidos, não são um privilégio brasileiro. Um dos maiores esforços de Obama é justamente oferecer saúde pública aos americanos, enfrentando uma cultura privativista, que até então não concebia nada semelhante ao SUS.
O diagnóstico da saúde brasileira, assim como o diagnóstico das doenças, tem de ser compreendido como multifatorial, incluindo as questões sanitárias e socioeconômicas. Nesse contexto, a distribuição territorial dos médicos é um fator que tem de ser enfrentado, obviamente, mas ele só vai funcionar se for acompanhado de várias outras medidas. Nossa “cultura” (ou falta de cultura) da saúde, até hoje, tem sido das prefeituras do interior investirem mais em ambulâncias para levar os pacientes para os grandes centros e até ajudar no suporte aos familiares para acompanhar estes tratamentos, mais que em proporcionar estrutura de atendimento nas cidades menores. Os administradores municipais, por sua vez – já que o SUS é municipalizado – se queixam que na área de saúde estão gastando proporcionalmente mais do que os percentuais indicados, enquanto o governo federal não se compromete com 10% para o setor.
Há questões a serem enfrentadas em absolutamente todas as áreas, das preventivas à estrutura de atendimento e também de medicamentos. Para dar só um exemplo, sumiu das farmácias o Isordil (antianginoso) sublingual, assim como ocorre com outros medicamentos quando os laboratórios querem aumentar os preços. Está prevista, agora, a volta do LAFERGS, laboratório farmacêutico público, necessário nessa equação multifatorial.
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* Montserrat Martins, Colunista do Portal Ecodebate, é Psiquiatra.
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2013/08/19/
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