terça-feira, 28 de julho de 2015

" Empreiteiras pagaram propina a dirigentes da ELETRONUCLEAR , Diz Polícia Federal "

28/07/2015 10h20 - Atualizado em 28/07/2015 12h22


Preso da Lava Jato, presidente licenciado da estatal recebeu R$ 4,5 milhões.
Investigação mira contratos para obra da usina nuclear de Angra 3.

Adriana JustiDo G1 PR
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) encontraram indícios de pagamentos de propina para dirigente da Eletronuclear. Eles foram feitos pelo consórcio de empreiteiras Angramon e pela Engevix, que têm contratos com a subsidiária da Eletrobras para obras da usina nuclear de Angra 3, confirmaram as autoridades nesta terça-feira (28), em entrevista em Curitiba.
Segundo investigações, a Engevix e as empresas que fazem parte do consórcio – Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC, Queiroz Galvão, EBE e Techint – pagaram vantagens indevidas ao então diretor-presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, em contratos de 2009, por meio de empresas intermediárias.
A Polícia Federal e o procurador federal Athayde Ribeiro Costa afirmaram que o dirigente recebeu R$ 4,5 milhões em propina.
Othon da Silva se afastou do cargo em abril deste ano, após as primeiras denúncias de corrupção. Ele foi preso na 16ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira. Além dele, a PF deteve Flávio David Barra, presidente global da AG Energia. Os dois estavam no Rio de Janeiro e serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba.
Othon da Silva foi preso em casa, e Flávio Barra foi localizado em um flat e preso quando saía dele e entrava num táxi, segundo a PF.  As prisões são temporárias – têm prazo de cinco dias e vencem no sábado (1º).
A Eletronuclear ainda não se pronunciou sobre a prisão do diretor-presidente licenciado. A Andrade Gutierrez afirma, em nota, que está acompanhando a 16ª fase da Lava Jato e que sempre esteve à disposição da Justiça. "Seus advogados estão analisando os termos desta ação da Polícia Federal para se pronunciar", diz o texto.
A corrupção no Brasil é endêmica e está em processo de metástase"
Athayde Ribeiro Costa, procurador federal
'Corrupção endêmica'
O procurador federal disse que a corrupção não está restrita à Petrobras, mas se espalha por outros órgãos da administração pública. "A corrupção no Brasil é endêmica e está em processo de metástase", afirmou Athayde Ribeiro Costa, citando um termo da medicina (metástase) que significa a disseminação de câncer para outros órgãos.
Além do pagamento de propina, a 16ª fase da Lava Jato investiga a formação de cartel e o prévio ajustamento de licitações nas obras de Angra 3. Ela será a terceira usina nuclear do país e está em construção na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Terá potência de 1.405 megawatts (MW) e gerará energia suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte por um ano.
A Eletronuclear foi criada em 1997 para operar e construir usinas termonucleares e responde hoje pela geração de cerca de 3% da energia elétrica consumida no país.
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Os agentes da Polícia Federal estão no prédio da Eletronuclear, no Centro do Rio, desde às 6h. Às 11h, mais um carro da PF chegou ao local.  (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)Os agentes da Polícia Federal chegaram ao prédio da Eletronuclear, no Centro do Rio, às 6h. Às 11h, mais um carro da PF foi ao local (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
Agentes da PF deixaram prédio da Eletronuclear, por volta das 12h, levando malotes (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)Agentes deixaram prédio da estatal, por volta das 12h, levando malotes (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)
Ação da polícia
A PF cumpre ainda 23 mandados de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento. O procurador do MPF disse que os 5 mandados de condução coercitiva são para executivos de empreiteiras envolvidos no esquema.
A atual fase da operação, batizada de "Radioatividade", foi deflagrada nesta madrugada em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói (RJ), São Paulo e Barueri (SP).
Por causa da ação, quem trabalha na Eletronuclear foi impedido de entrar no prédio da empresa no Rio nesta terça. Agentes da PF chegaram ao local às 6h e saíram às 12h05 levando malotes. Alguns funcionários esperaram em um restaurante próximo ao edifício. Segundo eles, policiais foram aos setores de informática, financeiro, comercial e presidência.
Foto de divulgação mostra a usina Angra 3 durante as obras em março de 2012 (Foto: Divulgação/Eletronuclear)Obras da usina Angra 3  em março de 2012 (Foto: Divulgação/Eletronuclear)
Delações
O procurador federal Athayde Ribeiro Costa disse nesta terça que a investigação confirmou as informações dadas pelo delator Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa.
Em abril deste ano,Avancini afirmou em depoimento de delação premiada que houve "promessa" de pagamento de propinaao PMDB e a dirigentes da Eletronuclear nas obras da usina nuclear Angra 3. As informações foram obtidas pelo Jornal Nacional.
Avancini deixou a prisão em 30 de março para cumprir prisão domiciliar, após firmar acordo de delação premiada com a Justiça, homologado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava Jato na primeira instância.
Segundo Avancini, a Camargo Corrêa foi informada em agosto de 2014 de que havia "compromissos" de pagamento de propina equivalente a 1% dos contratos das obras da usina ao PMDB e aos diretores da Eletronuclear. Somados, os contratos de Angra 3 chegam a R$ 3 bilhões, de acordo com o executivo. À época, o PMDB negou as acusações de recebimento de propina.

A Eletronuclear e o então presidente da empresa, Othon Luiz Pinheiro, disseram em abril que as acusações eram infundadas, que a empresa age sempre em total transparência e que o Tribunal de Contas da União aprovou a preparação das propostas de preços em Angra 3.
Uma comissão interna de fiscalização apura as denúncias e uma empresa de investigações foi contratada "para garantir a transparência e independência dos trabalhos", segundo nota da estatal.
Agentes entram na sede da PF com malotes apreendidos na Eletronuclear (Foto: Matheus Rodrigues/G1)Agentes entram na sede da PF com malotes apreendidos na Eletronuclear (Foto: Matheus Rodrigues/G1)


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