terça-feira, 28 de julho de 2015

" A Esfinge do Planalto "

Artigo Zero Hora


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MARCELO RECH
Jornalista do Grupo RBS
marcelo.rech@gruporbs.com.br

Tem mais espuma e anseio de governistas do que realidade a ideia de que, ao ser denunciado por receber US$ 5 milhões em propina, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, enfrenta irreversível processo de encolhimento. Em política, nem tudo o que parece é. Depois da acusação, os adversários de Cunha seguiram na mesma enquanto seus aliados entravam em modo silencioso, mas o fato é que, ao se declarar oficialmente na oposição, o Malvado Favorito do Brasil garantiu uma acolhida, ainda que discreta, nos braços largos da frente anti-PT.
As próximas semanas serão decisivas para testar a postura abertamente na oposição de Cunha, mas até o momento seu caminhão segue transportando uma carga explosiva de rara intensidade. De seu posto, ele concentra o maior poder da República. Em vez de exercer diretamente o governo, com todas as limitações administrativas, orçamentárias e políticas, Cunha pode ditar quanto o governo vai governar e, ao favorecer ou não um processo de impeachment, até mesmo se haverá um governo.

Não é apenas a força de seu cargo, e a forma como o exerce, que incomoda e assusta boa parte da República. Cunha é uma esfinge a ser decifrada. O que fica cada vez mais claro, porém, é que ele não se perturba com críticas. Ao contrário. Tal qual Felicianos e Bolsonaros, ele parece se nutrir dos ataques diários em editoriais, colunas, discursos, entrevistas e redes sociais. Inabalável, não se ouvem dele as lamúrias tão costumeiras de políticos quando são maltratados pela imprensa e detratores em geral.

Cunha age assim porque não se move pelos “formadores de opinião”. Ele ecoa uma enorme bancada de parlamentares desconhecidos eleitos por um Brasil mais ainda. Este Brasil teme a Deus, torce em silêncio pelo linchamento de estupradores e ignora solenemente os intelectuais e as colunas de jornais _ este espaço inclusive. Este país que só dá as caras nas urnas despeja dezenas de milhões de votos para se contrapor a cada quatro anos ao Brasil que sabe usar Instagram e exulta com 5 mil amigos no Facebook.
Mesmo acuado, Cunha extrai dos acordos subterrâneos sua sobrevivência, e assim ele vai controlando o Planalto, ao abrir ou fechar a torneira da governabilidade. Este é o seu maior poder, e é em nome de um Brasil distinto do que sai em colunas e blogs que ele o está exercendo.

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