No Brasil, parte significativa da
esquerda,
incluindo intelectuais e velhos
combatentes da nossa ditadura,
agora seguem Chávez e apoiam
o massacre na Síria
Quando milicianos leais a Bashar Assad,
sob o comando do exercito sírio, invadiram o vilarejo de Houla, em 28 de maio,
Muawiya Saayed mandou as mulheres e crianças refugiarem-se no
vizinho.
Sua esposa ficou
escondida entre as plantas do jardim. De lá, ouviu os gritos do marido e do
filho mais velho sendo torturados e executados pelas forças de
Bashar.
Na correria para
fugir, ficou para trás a caçula, de 8 anos. Pouco depois, o corpo da pequena
Sara viria somar-se a outros 107 computados, na aldeia, por observadores da
ONU.
Quase tão
chocante como episódios desta natureza tem sido a atitude de algumas figuras
emblemáticas do continente sul-americano diante da situação.
No Brasil, parte
significativa da esquerda, incluindo intelectuais, dirigentes de sindicatos e
movimentos sociais, partidos e deputados comprometidos com a luta contra a
violência de Estado, além de velhos combatentes à ditadura militar
verde-amarela, apoiam um regime cuja brutalidade cresce de maneira
assustadora.
Alegando que
Bashar seria anti-imperialista e, portanto, preferível à "turma da Otan e seus
asseclas regionais", eles fecham os olhos para um dos mais atrozes crimes contra
a humanidade do século 21.
Não há dúvida de
que a revolução síria, iniciada de forma pacífica há 18 meses, tem acumulado
contradições intrínsecas ao processo e exacerbado divisões sectárias entre
alauítas, sunitas e cristãos.
Mas, ao negar
solidariedade aos oprimidos, essas esquerdas desprezam os princípios
fundamentais da cartilha marxista. Pior: fazem coro aos inaceitáveis comentários
vindos de Caracas, onde Hugo Chávez chamou Assad de "líder árabe socialista,
humanista, irmão, com uma grande sensibilidade".
Ignorando o
caráter de massas da oposição, o chefe bolivariano descreveu seu "companheiro"
como vitima de um complô norte-americano para desalojá-lo do poder.
Ora, nem a
realpolitik absolve tais palavras.
A ideia de Assad
como inimigo dos ianques não tem lastro histórico. Segundo documentos revelados
pelo site WikiLeaks, o governo de Damasco não só praticou tortura terceirizada a
mando da CIA como possuía, até muito pouco tempo atrás, relações estreitíssimas
com a referida agência.
Verdade seja
dita, a amizade entre a Casa Branca e a família Assad vem de longe. O pai, de
quem Bashar herdou o trono de presidente, prontamente integrou a coalizão
liderada por Bush pai, em 1992, para invadir o Iraque. Em 1976, quando a Síria
ocupou o Líbano com o objetivo de derrotar o movimento nacional palestino, os
Assad contaram com o respaldo direto de Washington e Tel Aviv. Não por acaso, os
Estados Unidos se preocupam menos com a contingência de Assad possuir armas
químicas do que com a possibilidade delas saírem de suas confiáveis
mãos.
Buscando
justificar o injustificável, sob a defesa de uma suposta soberania nacional, os
ditos anti-imperialistas fingem não ver as bases militares russas nas praias da
Síria, por onde circulam bilhões de dólares em máquinas de matar enviadas por
Moscou.
Outros citam a
presença de integrantes da Al Qaeda no confronto armado. Reproduzem, de maneira
fiel, os argumentos utilizados por Washington na sua tentativa de desqualificar
a resistência iraquiana.
E vão além. Ao
apresentarem Bashar como herói antissionista, esquecem que sob seu governo as
fronteiras do país foram as mais seguras para Israel, que tinha como líquida e
certa a posse definitiva das Colinas de Golã.
Por sorte,
enquanto setores da esquerda encenam um papel lamentável, o povo sírio prossegue
com heroísmo na sua luta desigual.
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