sábado, 8 de setembro de 2012

O Poder de Isadora , escreve Nilson Souza


Não me sai da cabeça a história da menina catarinense que decidiu publicar numa página do Facebook as mazelas de sua escola – e acabou provocando uma verdadeira revolução. Isadora Faber, de 13 anos, conquistou a audiência de milhares de pessoas, despertou a atenção da mídia e provocou desconforto na direção da escola e até mesmo a contrariedade de alguns profissionais do ensino.

Um professor de matemática, criticado pela garota, foi demitido. As merendeiras ficaram de nariz torcido depois que ela publicou fotos da comida ruim. Os demais professores silenciaram, perplexos. Mas as autoridades da área educacional trataram de liberar recursos ligeirinho para consertar o que estava estragado no colégio.

Não há dúvida de que a adolescente exerceu o seu direito de cidadã, fazendo uso dos novos poderes que a tecnologia proporciona aos indivíduos. Com um computador conectado à internet e com domínio das chamadas mídias sociais, qualquer pessoa pode, literalmente, botar a boca no mundo. Para o bem e para o mal.

A menina de Florianópolis parece sensata e bem orientada, pois está tendo o cuidado de elogiar as reformas e de destacar também aspectos positivos de sua escola. Mas os professores estão, compreensivelmente, assustados com a possibilidade aberta para eventuais abusos.

Eles ficaram em desvantagem neste debate. Ou será que um professor também tem o direito de criticar seus alunos publicamente? É evidente que uma atitude dessas seria reprovada pela sociedade. Como já estão fragilizados em relação a questões disciplinares numa época em que a permissividade passou a ser regra geral, os mestres sentem-se expostos e desprotegidos.

Porém, como todo problema já traz em si a solução embutida, tenho esperança de que a menina de Floripa seja a saída para o impasse. Do mesmo modo como denunciou mazelas da escola, também poderá fiscalizar colegas que eventualmente cometam abusos.

Os bons alunos terão que fazer isso, até mesmo para preservar o poder recém conquistado, pois ataques infundados e atitudes vingativas tendem a destruir a credibilidade dos estudantes. Os jovens que não se enganem: na primeira injustiça visível, o aplauso se transforma em reprovação.

Mas os professores não precisam ficar acuados à espera de soluções milagrosas. Cabe-lhes, sim, interferir no processo, orientando a garotada sobre a melhor maneira de utilizar o poder tecnológico em favor do bem-estar coletivo. Eles viraram alvo, mas não perderam o poder de ensinar.

Foram professores, é bom lembrar, que ensinaram Isadora a se comunicar com o mundo.

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