sábado, 8 de setembro de 2012

Quando Dividir é Somar

Quando dividir é somar,
Doutor J.J. Camargo
cirurgião torácico e chefe
do Setor de Transplantes da
Sta Casa de Misericórdia - Porto Alegre,RS
Provavelmente,a solidariedade vem logo depois da gratidão na escala dos sentimentos humanos mais nobres.
Exercitada em condições de pobreza, doença e desespero por sobrevivência, ela transcende todos os limites do imaginável e se sublima.
A união solidária dos que estão agrupados por sofrimento cria uma irmandade que emociona pela capacidade ilimitada de dividir o pouco que alguns têm, mas que parece muito aos olhos dos que não têm nada.
É encantadora,por exemplo,a fraternidade das crianças com " fibrose cística ", cujas famílias praticam um auxílio mútuo com a naturalidade de quem descobriu que todas as mazelas , quando compartilhadas, ficam menores.
Quando comecei a trabalhar com transplante, por falta de experiência, intuí que os pacientes em lista de espera invejariam os colegas chamados para a cirurgia. Doce engano:
há uma autêntica euforia pelo companheiro que conseguiu .Para mim, esta alegria genuína é prova indiscutível de que os homens são intrinsecamente bons, ainda que os maus, poucos mas barulhentos, estimulem a falsa impressão de que a espécia humana está em decadência.
Outra descoberta : os mais pobres, por entenderem a solidariedade como um pré - requisito para a sobrevivência , e também por exercitarem - na desde a infância , se mantêm assim por toda a vida,e se dispõem a ajudar com uma espontaneidade que comove.
Consultem as agendas dos Bancos de Sangue, e ,descobrirão que a maioria dos doadores são pessoas pobres,, encantadas com a idéia de ajudar desconhecidos, que nunca terão sequer a oportunidade de agradecer-lhes.
Acompanhem os mutirões de ajuda aos flagelados,e encontrarão legiões de miseráveis mobilizados pelo encanto da solidariedade,não importando quem seja o ajudado.
A doação de órgão para transplante intervivos escancara uma diferença: com raras exceções, o paciente rico, senão dispuser de mãe ou pai para a doação estará perdido.
Entre os pobres,é comum que meia dúzia de parentes se disponha a doar.
Há neste comportamento,uma enternecedora compensação.O afeto e a generosidade substituem com vantagem as benesses que o dinheiro descobriu que não pode comprar.
 
 
 
 

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