Quando dividir é
somar,
Doutor J.J. Camargo
cirurgião torácico e
chefe
do Setor de Transplantes
da
Sta
Casa de Misericórdia - Porto Alegre,RS
Provavelmente,a solidariedade vem logo depois da gratidão na escala dos
sentimentos humanos mais nobres.
Exercitada em condições de
pobreza, doença e desespero por sobrevivência, ela transcende todos os limites
do imaginável e se sublima.
A união solidária dos que
estão agrupados por sofrimento cria uma irmandade que emociona pela capacidade
ilimitada de dividir o pouco que alguns têm, mas que parece muito aos olhos dos
que não têm nada.
É encantadora,por exemplo,a
fraternidade das crianças com " fibrose cística ", cujas famílias praticam um
auxílio mútuo com a naturalidade de quem descobriu que todas as mazelas , quando
compartilhadas, ficam menores.
Quando comecei a trabalhar
com transplante, por falta de experiência, intuí que os pacientes em lista de
espera invejariam os colegas chamados para a cirurgia. Doce
engano:
há uma autêntica euforia
pelo companheiro que conseguiu .Para mim, esta alegria genuína é prova
indiscutível de que os homens são intrinsecamente bons, ainda que os maus,
poucos mas barulhentos, estimulem a falsa impressão de que a espécia humana está
em decadência.
Outra descoberta : os mais
pobres, por entenderem a solidariedade como um pré - requisito para a
sobrevivência , e também por exercitarem - na desde a infância , se mantêm assim
por toda a vida,e se dispõem a ajudar com uma espontaneidade que
comove.
Consultem as agendas dos
Bancos de Sangue, e ,descobrirão que a maioria dos doadores são pessoas pobres,,
encantadas com a idéia de ajudar desconhecidos, que nunca terão sequer a
oportunidade de agradecer-lhes.
Acompanhem os mutirões de
ajuda aos flagelados,e encontrarão legiões de miseráveis mobilizados pelo
encanto da solidariedade,não importando quem seja o
ajudado.
A doação de órgão para
transplante intervivos escancara uma diferença: com raras exceções, o paciente
rico, senão dispuser de mãe ou pai para a doação estará
perdido.
Entre os pobres,é comum que
meia dúzia de parentes se disponha a doar.
Há neste comportamento,uma
enternecedora compensação.O afeto e a generosidade substituem com vantagem as
benesses que o dinheiro descobriu que não pode comprar.
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