Sempre há mais informação disponível do que conseguimos
processar, e isso não
e isso não é culpa da internet...
É
tão fácil botar a culpa na internet, no mundo moderno, nas novas tecnologias, ou
em tudo isso junto.
Falta de atenção é consequência de janelas
demais piscando no monitor; abundância de informação é um convite à
superficialidade; violência é resultado de videogames; falta de tempo é culpa de
e-mails demais por responder. O estresse da vida moderna, portanto, é culpa...
do mundo moderno.
Eu discordo. O problema não está no que o mundo
moderno faz com nosso cérebro, e sim nas limitações que nosso cérebro sempre
teve -e em como nós nos deixamos sucumbir a tentações e imposições que nos são
apresentadas por meio das novas tecnologias.
Para começar, não entendo a queixa de que "a
internet" reduziria nosso tempo de atenção sustentada e tornaria nosso
conhecimento superficial.
Pelo contrário: jovens, hoje, são capazes de
passar horas ininterruptas em frente a videogames ou em sites de busca que
permitem a qualquer um se tornar um profundo conhecedor de política
internacional ou de biologia das fossas abissais sem sair de casa.
É uma questão do uso que se escolhe fazer de um
mundo inteiro agora acessível.
Falando de atenção, aliás: nós sempre fomos
limitados a prestar atenção em apenas uma coisa de cada vez. É uma restrição, de
fato, mas que tem enormes vantagens, já que a maior parte da informação
disponível a cada instante é irrelevante, mesmo.
Por causa dessa limitação, sempre há mais
informação disponível do que conseguimos processar -e isso não é culpa da
internet. Sabendo dela, quem tem problemas para se manter focado pode se ajudar
reduzindo o número de tarefas que disputam sua atenção a cada instante.
O mesmo vale para o e-mail e o estresse
associado às demandas que nos fazem. Poder responder imediatamente a e-mails não
significa ter que fazê-lo -embora seja fácil sucumbir à pressão externa e à
cobrança, no dia seguinte, por uma resposta que, poucos anos atrás, só chegaria
pelo correio no prazo de uma semana.
Como hoje a maioria de nós não precisa se
estressar sobre a disponibilidade de alimento ou teto, sobra espaço para nos
cobrarmos respostas imediatas a todas as demandas eletrônicas que nos
fazem.
O problema continua sendo o mesmo: gerenciar
estresses. A dificuldade é se convencer de que o mundo não acaba se você não
responder a todos os e-mails ainda hoje -e, de preferência, não cobrar isso dos
outros.
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