Excesso de Exposição
— Pai, o que é
esquartejar?
A pergunta veio na noite de quarta-feira. A
extrema brutalidade no relato de envolvidos no desaparecimento e presumível
assassinato de Eliza Samudio invadiu as casas de todo o Brasil. Sem filtro, sem
eufemismos, sem aviso prévio do conteúdo absolutamente inadequado para menores.
No epicentro do caso, o capitão do time de maior torcida do Brasil. O goleiro
Bruno se firmou nos últimos anos como uma referência para milhões de crianças
apaixonadas por futebol. E são elas, independentemente do clube para o qual
torcem, que estão mais perplexas, totalmente desorientadas com o envolvimento do
jogador em história tão aterradora.
De repente, em vez de discussões sobre a final
inédita da Copa do Mundo ou sobre o fracasso da Seleção de Dunga, o noticiário
foi monopolizado por frases como “o adolescente viu a mão de Eliza ser atirada
para os cães e os ossos do corpo foram concretados” e “Eliza foi degolada,
desossada e jogada para os animais”. Pior: em menos de dois dias, especialistas
já estão na tevê tecendo conjecturas macabras, do tipo “os cachorros podem ter
consumido partes do cadáver e, se eles ingeriram carne humana, pode ser que haja
resquícios nas fezes dos animais”. Nenhuma criança passará incólume por esse
tipo de informação.
Por isso, cabe às autoridades mais trabalho
investigativo e menos deslumbre com os holofotes das câmeras. Um dos delegados,
na última quarta-feira, passou uma hora concedendo entrevista ao vivo para um
programa sensacionalista. Falou de tudo, inclusive dos próximos passos da
investigação. Repetiu a dose na tarde de ontem, dessa vez em interminável
entrevista coletiva. Escancarou inclusive as contradições levantadas pela
polícia, facilitando o trabalho dos advogados de defesa. Uso desnecessário de
adjetivos em relação aos acusados, teatralizações grotescas, reproduções de
detalhes, comparações infelizes, tudo isso é dispensável nessa hora delicada.
Não em respeito aos criminosos, mas aos que nada têm a ver com a história e são
expostos de forma desnecessariamente ostensiva. Um pouco mais de
responsabilidade, um pouco menos de vaidade. Os pais agradecem.
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