Artigo Zero Hora
ITAMAR MELO
Repórter de Zero Hora
itamar.melo@zerohora.com.br
itamar.melo@zerohora.com.br
Como percebe qualquer um que tenha acesso à internet, opinião é o artigo mais abundante nos dias que correm.
Esfregam-nos opinião nas fuças da manhã à noite, sem timidez ou piedade. Sendo assim, e para poupar fermento ao confeito supérfluo dos palpites, eu gostaria de aproveitar este espaço não para dar, mas para questionar uma opinião _ uma opinião que vem sendo repetida com mais insistência do que consistência.
Já há alguns anos, sempre que se fala da brutal violência que envolve o tráfico no Brasil e que afeta a todos nós, vozes se levantam para situar a origem do mal no cidadão usuário de drogas.
O raciocínio, jamais questionado, é que o consumo gera o tráfico e o tráfico gera a violência.
A primeira parte dessa equação pode ser verdadeira, mas talvez seja proveitoso examinar com mais vagar a segunda. Para tanto, um primeiro passo seria consultar as estatísticas sobre consumo de entorpecentes da Organização das Nações Unidas.
O que elas mostram é que o Brasil não figura entre os países onde o uso é mais prevalente. Nesse particular, o troféu vai para nações ricas, principalmente na América do Norte e na Europa. Somos superados no vício, inclusive, por alguns de nossos vizinhos sul-americanos.
Se estivesse correta a opinião segundo a qual é o uso de
e drogas que fomenta as guerras e chacinas do tráfico, seria de esperar que a violência fosse extrema nos Estados Unidos, na Espanha, na Austrália e na Inglaterra, para citar alguns campeões no uso de cocaína. Não é o que se verifica.
Esses países mostram que é perfeitamente possível haver consumo elevado sem que isso se traduza em mortandade e insegurança generalizada. Não há relação direta entre tamanho do mercado e crime.
Não levanto essas questões para aliviar a consciência de quem usa drogas. A preocupação aqui é outra: a ideia de que compreender mal um fenômeno e suas causas não vai contribuir em nada para achar uma solução.
Que tal perguntarmos por que, em países como o Brasil e o México, o tráfico produz disputas, barbárie e violência muito maiores do que em países onde o mercado é mais apetitoso? Quais os motivos para que, aqui, o crime e a violência surjam como opções válidas, vantajosas e naturais para tantos jovens?
Até tenho alguns palpites a respeito dessas razões _ mas aí já seria dar opinião.
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