sexta-feira, 12 de abril de 2013

" Margareth , Daniela , Sarita < por Cecílio Elias Netto *>

 

 

Que o mundo é das mulheres, isso já se não discute. Mesmo nem sempre sabendo o que fazer com ele, elas agitam-no, mudam-no, criam movimentos ora suaves, ora tempestuosos. Aí estão, nesta semana, três mulheres que agitaram o mundo ainda que por motivos e razões diferentes, sendo também, elas, diferentes entre si.

Primeiro, a morte de Margareth Tatcher, a mais poderosa mulher de seu tempo, a “dama de ferro” como a chamaram os soviéticos. A Tatcher foi a deusa dos grandes conglomerados empresariais, econômicos. Foi ela — aliada a Ronald Reagan — que implantou e fortaleceu esse agora moribundo — ainda que esperneante — neoliberalismo que privilegia poucos em detrimento de multidões. Margareth Tatcher teve ojeriza pelos pobres, a ponto de — para diminuir as funções do Estado — ter tirado até o leite das creches das crianças britânicas.

Foi, sim, uma das responsáveis pela mudança do mundo. Mas a história irá, com o tempo — e já começa a fazê-lo — restabelecer a verdade, revelando a outra e talvez mais verdadeira face de seu pensamento. Os mais necessitados foram vitimados por Margareth Tatcher. Por isso, movimentos de júbilo e de alegria surgiram na Inglaterra à notícia de sua morte. Na internet, alguém postou e milhares de pessoas concordaram: “Tatcher morreu. Onde vai ser a festa?” A baronesa será sepultada com pompas reais. Mas, nas ruas, as multidões estarão destilando mágoas e rancores.

Outra mulher que deu espetáculo esta semana — um outro show — foi Daniela Mercury. Que anunciou — com estardalhaço bem a seu estilo — o seu novo “casamento”, agora com uma jovem mulher a quem chamou de “minha esposa”. Vou pedir permissão a meus poucos leitores para abrir outros parênteses. Primeiro: tenho parentes e grandes amigos homossexuais. São pessoas adoráveis, discretas, ponderadas. E, no segundo parêntese, peço licença para perder — pelo menos por alguns segundos — a classe, a educação, os cuidados que tenho em relação à linguagem. Que me seja permitido dizer apenas que estou de saco cheio, absolutamente cheio com esse show permanente, com a impudicícia, com o espetáculo bem orquestrado dos gays. Caramba! Se ser gay é tão natural, por que tanta espetacularização?

Ora, ninguém tem nada a ver com a vida pessoal das pessoas, incluindo a de Daniela Mercury. Mas — quando ela mesma se expõe, tornando pública a sua intimidade — passa a autorizar reações favoráveis ou contrárias. Que ela seja feliz com sua amante, com sua relação sexual que, aliás, ela diz que teria até com um ET, se lhe conviesse. Mas que não se vulgarize ainda mais o já tão esquecido pudor público. Mesmo repudiando o extremismo de um deputado Feliciano, há que se colocar um mínimo de ordem ao caos que se instalou. As sociedades civilizadas impõem limites, regras e ordenamentos. Quando são abolidos, a possível democracia se torna anarquia. E a desejada ordem, desordem.

Casamento não é essa simplicidade e banalidade com que movimentos gays o tratam. O casamento, desde os primórdios da humanidade, é uma instituição ao mesmo tempo natural, social e contratual. E, na maioria das culturas, também religioso. Com um detalhe fundamental: casamento é um projeto de vida em comum entre pessoas de sexos diferentes. Os estudos filosóficos e antropológicos sobre o casamento são profundos demais para serem discutidos e debatidos em programinhas de televisão ou em passeatas carnavalescas.

Que se reconheçam, às uniões homossexuais, os direitos de união estável e civil, em relação a patrimônio, herança, planos de saúde, tudo o que for relativo a direitos humanos. Mas não há casamento entre homens, nem apenas entre mulheres. Daniela Mercury não se casou; ela apenas assumiu um relacionamento, que poderá ser estável, com outra mulher. Nada mais do que isso. E se ela resolver “se casar” com uma vaca, a opção pela zoofilia terá que ser aplaudida? Estamos diante da farra do mundo do espetáculo. Que se faz obsceno ao tornar públicas as intimidades humanas.

E, finalmente, lá se foi a nossa Sarita Montiel, a atriz e cantora espanhola que encantou gerações passadas. Bela, de uma sensualidade quase ingênua, Sarita tornou-se uma fascinação mundial, por sua graça e por sua voz. Minha geração não se esquecerá jamais de Sarita cantando, com graciosos trejeitos, La Violetera. Ela foi como que a representante de uma era de delicadezas, de sonhos, de visões mais generosas e humanas de mundo.

Margareth Tatcher me desculpe, mas lamento mais a morte de Sarita Montiel. E Daniela Mercuy entra nessa história como um episódio apenas medíocre de nossos tempos sem pudores. Somente isso.
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* Cecílio Elias Netto, nasceu em 24 de junho de 1940, é jornalista e escritor. Com dezoito anos já estudava alemão, francês, inglês, espanhol e italiano, sempre visando a diplomacia que exigia um grande domínio de línguas estrangeiras. Mesmo estudando para direito, o trabalho como jornalista começou cedo, aos 16 anos, como auxiliar de revisor no “Jornal de Piracicaba”. É autor do livro 'Arco, Tarco, Verva', volume 1 e 2.
Fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/04/colunistas/cecilio/48044-margareth-daniela-sarita.html

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