Dr
J.J.Camargo
é cirurgião
torácico e chefe do Setor de Transplantes
da Santa Casa
de Misericórdia - Porto Alegre RS -
Quando o Jorge
chegou ao consultório com uma carta de encaminhamento de uma doutora de
Aldeota,na periferia de Fortaleza, impressionava
o esforço que
fazia para respirar e o uso de toda a musculatura do tórax e do pescoço, na
busca desesperada pelo ar que se negava a entrar nos seus pulmões enrijecidos
pela aspiração repetida e prolongada de pó de pedra.
E a doutora
comunicava que se eu pudesse ajudar o Jorge com o transplante de pulmão ,ela
tinha mais 29( sim vinte e nove ) pacientes em
situação
idêntica ,todos
com menos de 25 anos de idade.
Essa tragédia
brasileira é produzida em série,nas minas de carvão do SUL,na busca dos filões
de pedras preciosas do BRASIL central nas perfurações de poços artesianos no
NORDESTE.
Nos últimos
dois anos, começaram a morrer os primeiros nova- iorquinos que, tendo
experimentado a inalação maciça de sílica resultante da
pulve
rização das
torres gêmeas foram vitimados pela tragédia que mutila milhares de trabalhadores
braçais brasileiros , que nunca ouviram falar de
terror
rismo.Pelo
menos não daquele terrorismo.
A inalação
desprotegida do pó de sílica faz com que ele migre para as profundezas do
pulmão, de onde nunca mais será removido pelo mecanismo protetor da
tosse.
A presença do
corpo estranho desencadeia uma reação inflmatória que se perpetua, produzindo um
tecido de cicatriz que torna os pulmões cada vez mais rígidos.A falta de ar
resultante disso é progressiva e desesperadora para quem sofre , e um terrível
exercício de impotência para quem tenta ajudar.
Quando soube
que o rapaz que o acompanhava era o único dos seis irmãos que não tivera a
doença , e que os outros quatro,todos jovens ,já tinham morrido, quis saber se
não lhes davam nenhuma proteção , e ele confessou que sim : mas, que a máscara
era tão vagabunda que depois de dez ( 10 ) minutos os poros entupiam, e eles
tinham que reitará-las para não morrerem asfixiados dentro
delas.
Então não
resisti perguntar:
" mas, Jorge
,você não podia ter escolhido fazer outra coisa? "
E a resposta
foi devastadora :
" O problema ,
doutor , é que lá no sertão a gente acaba tendo que escolher entre a fome e a
falta de ar porque a fome mata mais rápido ".
Se este BRASIL
é o PAÍS de TODOS , eu abro mão da minha parte !
J.J.Camargo
Médico
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