sexta-feira, 12 de abril de 2013

José Castelo navega nos mares inquietos da prosa e do verso,por Jaime Cimenti


De uns anos para cá, muita gente anda reclamando que não há mais crítica literária no Brasil, que as coberturas dos lançamentos dos livros estão mais centradas em informações, resenhas, que falta opinião e tal. Em parte a queixa procede, mas para quem gosta de crítica, da boa, está aí a coletânea Sábados inquietos do jornalista e escritor carioca radicado em Curitiba José Castello, publicada pela Leya.

O volume reúne as 100 melhores crônicas de Castello, selecionadas a partir das 250 que publicou no suplemento Prosa de O Globo, aos sábados, desde 2007 até 2012. Um trabalho delicioso e surpreendente, que o autor descreve como “aventuras que narram suas peripécias através dos mares inquietos e turbulentos da poesia e da ficção”.

Os exercícios de crítica literária de Castello perpassam autores como Machado de Assis, Lewis Carroll, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes, Kafka, Borges, Beckett, Coetzee, Rulfo, Umberto Eco, Tolstoi e muitos outros. O que dá uma certa unidade aos textos é o fato de eles partirem, quase sempre, de uma perspectiva íntima, falando sobre o que tocou mais diretamente o autor em cada obra analisada.

As crônicas induzem o leitor a uma verdadeira viagem no mundo das emoções, um mundo quase surreal. “Sofro dos livros que leio e acredito que, na maior parte das vezes, eles, sim, me leem, me afetam e me modificam. Não posso negar que eles sempre me inquietam. Através da leitura, faço longas e inesquecíveis viagens ficcionais.

Digamos, portanto, que é um livro de viagens. Uma coletânea de aventuras que narram minhas peripécias através dos mares inquietos e turbulentos da poesia e da ficção. Assim o vejo, e assim gostaria que o lessem”, escreveu José Castello na introdução. Sobre Vinicius de Moraes, disse Castello: “Nunca se sabe onde Vinicius está”. Os tradicionalistas apreciam seus sonetos, mas lamentam suas incursões pela leveza do contemporâneo.

Os vanguardistas se irritam porque Vinicius não sofria da compulsão ao novo - o “make it new” - de Ezra Pound, que, na verdade, fez da ruptura uma nova tradição. Os intelectuais de gabinete se indispõem com as aventuras de Vinicius pelos becos da realidade e com sua insistência em “poetizar o mundo” - enquanto João Cabral, seu antípoda, num gesto oposto, pretendia “despoetizar a poesia”. Drummond foi mais sábio ao entender que, de todos eles, Vinicius foi o único que conseguiu recriar uma conexão, há muito perdida, entre poesia e vida. É isso.
Jaime Cimenti

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