Sociólogo sustenta: novos movimentos
pensam a longo prazo, querem transformar relações de poder e são alternativa ao
populismo de direita
Manuel
Castells*
Estamos testemunhando o aparecimento de
um novo tipo de movimento social, que ainda é embrionário, por isso ainda não
foi capaz de alterar fundamentalmente a política. Mas foi assim em muitos
momentos da História. Este pode ser o começo de um longo processo de
mobilização.
O que
caracteriza todos estes movimentos é que, por um lado, são sempre criados na
internet, aproveitando-se da autonomia do ciberespaço para promover debates e
interagir. Mas passam frequentemente, no momento seguinte, ao espaço urbano — e
constroem redes sociais físicas de interação. A combinação do ciberespaço e do
espaço público com alguma contestação ao sistema institucional é o que
caracteriza estes movimentos. Eles aparecem e desaparecem. E estão sempre na
internet. Eu chamo suas dinâmicas de rizomáticas.
Nos
últimos tempos, vemos, particularmente na Europa, o surgimento de alguns
esforços para exercer influência sobre o próprio sistema político. Sempre que há
uma nova eleição, aparecem novas formas de expressão política, com as quais não
necessariamente concordo ou apoio, mas estão mostrando um claro descontentamento
com sistema político.
O padrão
comum fundamental é o uso da internet, a ocupação do espaço urbano (mas não
apenas) e a possibilidade de recriar uma nova forma de representação
democrática. Por fim, estes movimentos não tratam de causas específicas que
estão relacionadas apenas com seu próprio país. São, até certo ponto, iguais em
seu objetivo, que é reconstruir a democracia de baixo para
cima.
O que
muitas pessoas se perguntam é “então, qual é o resultado desses movimentos?”
Para a maioria dos participantes dos movimentos, eles estão começando um
processo. Isso é o que dizem: que precisamos fugir da lógica produtivista do
capitalismo. Eles acreditam que há um novo processo de crescimento de
consciência e mobilização das pessoas. Os movimentos estão encorajando as
pessoas a acreditar que não precisam necessariamente delegar seu poder aos
políticos e seu dinheiro aos bancos, em que não confiam. Estamos em um ponto em
que a falta de confiança é esmagadora. Então, surge a noção de que as pessoas
estão sendo empoderadas por estes movimentos — e não apenas as que participam
diretamente deles. Em países como a Espanha, 70% da população apoia os
movimentos, apesar de pensar que eles não podem mudar nada a curto prazo. Então
esta é a primeira coisa, os movimentos tem que ampliar a consciência e estimular
o empoderamento das pessoas.
É
possível, até agora, alguns exemplos de impacto dos movimentos sobre a política.
É o caso da Islândia. Lá, a sociedade inteira envolveu-se, via internet, na
redação de uma nova Constituição. Os bancos foram nacionalizados e depois
reprivatizados sem favores; o país preservou direitos e vai muito bem. Bem, é um
país pequeno, mas o Chipre também é. Um é exemplo dos impactos negativos da
crise; o outro, de como, a partir da crise, pode-se transformar o sistema
político e resgatar a democracia e a sociedade. É assim que pensam, atualmente,
as pessoas que participam dos movimentos. Veem-se plantando a semente do que
será, em algum momento, uma transformação inclusive das relações de poder e das
relações sociais.
A
alternativa é a emergência de movimentos populistas de direita. Isso está
particularmente claro na Finlândia, na Grécia e mesmo no Reino Unido. Por isso,
os novos movimentos têm também o papel de canalizar o protesto popular para
sentimentos positivos e esperança, ao invés das atitudes reacionárias e
destrutivas do nacionalismo xenófobo.
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* no
The Guardian | Transcrição e tradução: Gabriela
Leite
Fonte:
http://www.outraspalavras.net/2013/04/05/manuel-castells-tempo-de-semear/
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