sábado, 6 de abril de 2013

" Os Homens e Seus Cães " por Taís Luso de Carvalho

 




 
Como em todas as ruas das cidades, existem os moradores de rua que catam lixo reciclável puxando suas carrocinhas por vários quilômetros. Ao lado, ou dentro das carrocinhas, quase sempre há um cão. E com eles, estes moradores dividem comida, água, espaço e cumplicidade.

A cena se repete, sem alterações e sem esperanças de um dia diferente. Mas o morador de rua é assim, mantém o elo com a última esperança de vida, compartilha seu sofrimento, suas amarguras com seu animal. O único que está junto; o único ainda amigo. O único que o segue. Muitos destes moradores só dormirão em abrigos quando seus companheiros tiverem também um canil para dormirem. Estas foram as palavras de muitos dos entrevistados das ruas da minha cidade. E essa amizade, essa fidelidade entre um mendigo ou catador de lixo e seu animal não deixa de ser comovente.

A fidelidade e amizade dos animais tem um nome: amor incondicional. Amam sem esperar nada em troca. Muitas vezes maltratados, retornam humildes como se quisessem nos acarinhar, pedir perdão. Por isso tudo é que perdemos em amor para os animais; temos ódio, somos ingratos, mesquinhos, aproveitadores, egoístas, trambiqueiros... Será que encontramos isso nos animais?

Tenho visto que ao chegar a época de férias vários animais são abandonados nos parques e nas ruas por gente com um bom status social e financeiro; por pessoas que se dizem responsáveis e politicamente corretas. Então fico pensando nos sentimentos destas pessoas portadoras de um coração em ruínas. Fico pensando na podridão de seus atos. Estas pessoas jamais serão amigos confiáveis. Eu não os teria como meus amigos.

Para certas pessoas é difícil de perceber que o cão oferece um consolo afetivo incalculável, justamente por terem levado muito tempo num processo de domesticação alcançando uma história de companheirismo e amor por milhares de anos.

Há milênios, a relação era de caráter utilitário, pois o cão ajudava na caça e na proteção em troca de comida. Num processo de seleção, o homem foi criando cães apropriados às suas necessidades. E assim, através de cruzamentos entre várias raças, foram aparecendo os cães para caça, cães para companhia, cães de guarda e cães para resgate.

A convivência com os cães gera benefícios comprovados à saúde e à mente. As crianças que crescem, que interagem com animais desenvolvem maior coordenação motora e domínio emocional; os idosos ficam menos deprimidos e se sentem menos isolados; os hipertensos são aliviados com menos crises de stress.

Vemos frequentemente a história de cães que salvaram seus donos e que lhes são fiéis até a morte, muitos ficando nos cemitérios, numa tristeza comovente.

Os cães, ao longo do tempo, tornaram-se símbolo de heroísmo e afetividade. Não há dúvidas que o cachorro é um resultado da manipulação do ser humano, e como tal, certos cruzamentos trouxeram, também, raças agressivas. Mas tudo é uma questão de adestramento. Basta ao homem saber concertar algumas falhas causadas por ele mesmo.

O que não dá para admitir são pessoas que maltratam, que colocam seus problemas, suas frustrações e suas loucuras em cima dos animais que nascem para serem amados, que nos ajudam, que nos consolam, que nos amam e sobretudo que dependem de nós para sobreviverem. Eles já estão domesticados. No entanto, muitas atitudes nossas são covardes, sórdidas e vergonhosas.

Quando essas pessoas se conscientizarem de que os animais não são brinquedos e nem produtos descartáveis, pode ser que as coisas mudem; que o ser humano mereça ser um pouco mais respeitado.

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