Talvez a parte mais estranha de envelhecer deve-se ao fato de que poucos se sentem com a idade que têm
Out of Time: The Pleasure and the Perils of Ageing, de Lynne Segal. A passagem do tempo é necessariamente traumática. A promessa brilhante da juventude é maculada e as decepções se acumulam. O futuro não mais se manifesta como uma sucessão de possibilidades infinitas. Paul McCartey cantava “Yesterday, all my troubles seemed so far away” (Ontem todos os meus problemas pareciam tão distantes) com nostalgia aos 23 anos de idade.
Se o tempo é um demônio, a idade é um assunto complicado – tanto mais quanto mais velho se fica. As atitudes em relação à idade variam, mas raramente se distanciam do horror. “Você não mudou nada!” é um elogio que todos esperam ouvir, desejando acreditar que o tempo passou sem deixar vestígios.
Então o que quer dizer envelhecer de forma graciosa? Como se faz isso? Essas perguntas estão no centro de um novo e interessante livro de Lynne Segal, uma professora de psicologia da Universidade de Londres. Ansiosa em relação à sua própria idade, e ciente dos preconceitos culturais contra os velhos, ela recorre à literatura, psicologia, sociologia e poesia em busca de maneiras de “reconhecer as vicissitudes reais da idade avançada e ao mesmo tempo afirma a sua dignidade e, às vezes, até mesmo a sua graça ou alegria”.
Talvez a parte mais estranha de envelhecer deve-se ao fato de que poucos se sentem com a idade que têm – uma desconexão que se agrava com o tempo. Próxima aos setenta anos, Segal se encanta como a sua idade parece de certa forma separada de seu eu profundo. Ela descreve a sua sensação de “oscilar entre as décadas, escrevendo datas erradas em cheques”, perguntando-se, em suma, qual a sua idade. Ela não está nem um pouco sozinha. Em uma pesquisa de opinião realizada em 2009 sobre os americanos, aqueles com mais de 50 anos afirmavam se sentir pelo menos dez anos mais jovem que suas idades cronológicas; muitos com mais de 65 afirmaram se sentir até 20 anos mais jovem. “Comportar-se conforme sua idade”, observa Will Self, um escritor inglês “é algo que requer uma enorme ausência de incredulidade”.
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