Valerio Albisetti*
Muitas vezes, porque não alcançámos o ideal que almejávamos, pensamos que errámos tudo, que deitámos fora, que desperdiçámos a nossa vida inteira.
Tínhamo-nos proposto tornar-nos importantes na sociedade, na profissão; tínhamos imaginado uma vida ideal de casal; e perdemos de vista o que somos, a nossa especificidade.
As nossas limitações.
Nunca mais voltámos a nós próprios.
Não honrámos a nossa especificidade, investimos sobretudo no outro.
É naturalmente mais fácil. Menos doloroso.
A maior parte desta humanidade identifica-se acriticamente com os modelos culturais e sociais dominantes.
Modelos assumidamente inatingíveis para manter o habitante deste tempo insatisfeito, frustrado, para estar sempre pronto a consumir, a competir para reduzir o sofrimento.
Nós, pelo contrário, deveríamos dar valor à nossa conatural impotência, à nossa debilidade.
Conhecer e saber integrar as nossas limitações conduz-nos a uma boa autoestima.
Nesta perspetiva, até os erros que fazemos se tornam indicações úteis para continuarmos a viagem da nossa existência.
Por educação, por história pessoal e pelo tipo de sociedade em que vivi, passei quase toda a minha vida sem perdoar a mim mesmo os erros que cometi.
E, no entanto, hoje compreendo bem tudo isso: os nossos erros devem servir para viver melhor e nunca para viver pior.
Por outro lado, quem não aceita cair, continua inconscientemente a acreditar que ainda é a criança omnipotente que foi.
Sentes-te em baixo?
Talvez te sintas assim porque, apesar de todos os teus esforços e das boas intenções, estarás sempre a cometer os mesmos erros.
Quantas vezes prometeste que mudarias para, logo depois, te aperceberes de que nada ou pouco mudou em ti!
Sobretudo no campo afetivo; por exemplo, querer deixar de ser ciumento, mas as feridas antigas reabriram-se.
A vivência, infantil ou da adolescência, de ser rejeitado, de não ser amado, ganha a dianteira e os bons propósitos desaparecem.
Então, livra-te do passado e lembra-te de que, se estás em baixo, deprimido, é porque estás a dar o poder de te fazerem mal a um período da tua vida ou a uma pessoa que nunca deveriam possuí-lo.
E tudo isto pode acontecer porque não tens poder sobre ti.
Não vale a pena mascarares-te de indiferença ou de superioridade; não adianta esconderes-te numa hiperatividade incessante e desatinada para manter distante o vazio interior.
Um vazio que leva à autodestruição, à vontade de fazer mal a ti próprio.
Só quando tiveres voltado a habitar plenamente no teu coração poderás viver serenamente e também poderás perdoar.
Só então, o perdão se torna um ato libertador e não de sofrimento.
Perdoo para libertar-me definitivamente do poder do outro.
A sociedade em que vivemos, porque não quer saber que tem de morrer, provoca depressão, insatisfação.
Não nos deixa viver a realidade. Provoca medo.
Medo de errar, porque se vivem os erros como fracassos da pessoa inteira.
Medo daquilo que não é controlável, previsível; medo de arriscar, medo de sofrer.
Quando não se quer saber que se tem de morrer:
- não se aceita o diferente,
- não se aceitam as dificuldades,
- não se aceitam as perdas,
- não se aceitam as inseguranças,
- não se aceitam as fragilidades,
- não se aceitam as recusas nem as rejeições,
- não se aceitam as incertezas,
- não se aceita o que é desconhecido,
- não se aceita a mudança,
- não se aceita perder.
- não se aceitam as dificuldades,
- não se aceitam as perdas,
- não se aceitam as inseguranças,
- não se aceitam as fragilidades,
- não se aceitam as recusas nem as rejeições,
- não se aceitam as incertezas,
- não se aceita o que é desconhecido,
- não se aceita a mudança,
- não se aceita perder.
Precisamos de considerar que a vida não é bonita nem feia, nem clara nem escura, mas um alegre claro-escuro.
Enquanto as pessoas continuarem a ouvir quem as leva a acreditar que o sofrimento e a morte não são evidências que lhe digam respeito, nunca conhecerão a sua verdadeira humanidade.
O sofrimento e a morte fazem parte da vida.
A pessoa que aceita a sua mortalidade, a sua fraqueza, é ativa, aberta às mudanças; é vital, verdadeiramente otimista e com uma autoestima sadia.
Consegue transformar as situações porque conseguiu transformar a sua debilidade.
Quando erra, uma pessoa sadia sabe que é o momento de reconhecer as suas limitações. Esta atitude levá-la-á a errar cada vez menos, porque a pessoa cresceu em humanidade e não em perfeição.
Para este tipo de pessoa, um erro toma-se uma indicação importante, útil para compreender ainda mais profundamente a sua especificidade, a sua unicidade, para prosseguir mais facilmente ao longo do percurso da sua vida e, consequentemente, torna-se mais humana também em relação aos outros, mais acolhedora em relação a quem está em seu redor, capaz de respeitar a diversidade do outro.
Neste nosso tempo, é-se mais atraído por aquilo que uma pessoa faz, por aquilo que possui exteriormente, do que por aquilo que ela é, pela sua sabedoria interior.
Nesta minha visão de vida, os papéis, os trabalhos realizados, o dinheiro ou o poder só ganham significado quando se inserem numa visão precisa de vida que provenha da sua interioridade, que deve ser produzida pela consciência do saber que tem de morrer, na sua aceitação e, por conseguinte, em pô-la ao serviço do outro, dos outros, da humanidade inteira.
Sonho que, um dia, esta consciência interior, que serve de motor a todas as nossas ações e se mantém protegida no silêncio do nosso coração, poderá ser vivida por cada ser humano sem exceção.
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* Psicólogo, professor universitário
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