sábado, 2 de novembro de 2013

O tabu a respeito do morrer. "Morremos para viver". Entrevista especial com Leomar Antônio Brustolin

"Rezar pelos mortos significa o gesto de maior amor por quem já não está mais conosco", diz o teólogo. Ele constata:"Na minha experiência pastoral, exercendo há 20 anos ministério presbiteral na cidade de Caxias do Sul, percebo algumas mudanças de comportamento no culto aos mortos".

"Falar do morrer significa tratar do viver. É nesse sentido que pretendemos refletir sobre o tema da vida e da morte. Não separados, mas integrados. Se pensássemos apenas no morrer, poderíamos cair numa abordagem reducionista que colocaria o sentido de tudo somente no final da existência", afirma Leomar Antônio Brustolin à IHU On-Line, ao abordar o assunto na data de hoje, dia em que pessoas do mundo todo rezam por seus mortos.
Brustolin explica que, na compreensão filosófica e religiosa, a morte está vinculada a um "ciclo vital que compreende o nascer e o morrer. Por isso muitos filósofos falarão da morte como limite da existência, porque explicita de forma escancarada a finitude da vida". Os cristãos, por sua vez, definem a morte como passagem. "Não passagem de uma realidade para outra totalmente diferente, mas de uma situação limitada para outra, continuada, mas descontínua. Um paradoxo? Não! Trata-se de plenificar e consumar o que agora temos apenas como imagem. Vivemos na e na esperança aquilo que um dia veremos plenamente. Neste sentido, o morrer é um adormecer para este mundo limitado pelo tempo e pelo espaço e acordar nas potências infinitas do Criador. Trata-se do encontro que dá significado a toda experiência humana", menciona.

Tradicionalmente, desde o século XII, o dia 2 de novembro é dedicado aos mortos. Apesar da exteriorização da saudade através de visitas aos túmulos, Brustolin enfatiza que "somente a oração dirigida a Deus é que estabelece total comunhão. Deus é o mesmo, tanto dos vivos, quanto dos mortos. Rezar é manter-se unido ao Pai que reúne em seu coração, ao mesmo tempo, os mortos e os vivos. Em Deus, somente Nele, a humanidade de todos os tempos sente-se irmanada".

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o teólogo também comenta as "mudanças de comportamento" no culto aos mortos, as quais têm percebido ao longo dos últimos 20 anos de experiência pastoral. Segundo ele, os velórios são "abreviados", e o cemitério deixou de ser "referência para os enlutados. "Se o feriado permite um período mais prolongado de folga, muitos preferem ocupar o dia na praia ou passeando. Sem fazer maiores análises, pode-se dizer que a falta de afeto com as pessoas em vida, especialmente idosos e doentes, reflete-se na ausência de jovens nos cemitérios. A crise da alteridade, a pressa do cotidiano e a ânsia de aproveitar ao máximo a vida podem camuflar uma reflexão mais profunda sobre a morte e o morrer. É a eternização do presente que prescinde do passado e não projeta o futuro. Talvez isso possa ser uma fase de nosso tempo", lamenta.

Leomar Antônio Brustolin é pároco da Catedral Diocesana de Caxias do Sul. Possui graduação em Teologia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, mestrado em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e doutorado em Teologia, pela Pontifícia Università San Tommaso, em Roma, Itália.

Atualmente, é professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde é coordenador do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Teologia. De sua autoria, destacamos: Quando Cristo vem... a Parusia na Escatologia Cristã (2. ed. São Paulo: Paulus, 2001), Maria, símbolo do cuidado de Deus (São Paulo:, 2004), Antonio Francisco. Caminho de fé. Livro do catequizando (São Paulo: Paulinas, 2006) e A fé cristã para catequistas (São Paulo: Paulinas, 2008).
Confira a entrevista.
Foto: http://bit.ly/1iAaqNg

IHU On-Line - Qual é o significado da morte para os cristãos?
Leomar Antônio Brustolin - Do ponto de vista natural, a morte é a cessação definitiva dos processos vitais de um ser vivo. No sentido filosófico e religioso, o morrer está vinculado a um ciclo vital que compreende o nascer e o morrer. Por isso muitos filósofos falarão da morte como limite da existência, porque explicita de forma escancarada a finitude da vida. Os teólogos a definirão como nova oportunidade dada ao ser mortal. As religiões nasceram, cresceram e até desapareceram na tentativa de explicar o que existe depois desta vida que passa.

Os cristãos definem a morte como passagem. Não passagem de uma realidade para outra totalmente diferente, mas de uma situação limitada para outra, continuada, mas descontínua. Um paradoxo? Não! Trata-se de plenificar e consumar o que agora temos apenas como imagem. Vivemos na fé e na esperança aquilo que um dia veremos plenamente. Neste sentido, o morrer é um adormecer para este mundo limitado pelo tempo e pelo espaço e acordar nas potências infinitas do Criador. Trata-se do encontro que dá significado a toda experiência humana.

IHU On-Line - Como a morte, no cristianismo, se relaciona com o Juízo Final e a Parusia?
Leomar Antônio Brustolin - No cristianismo, o juízo foi transformado no dia da ira de Deus. Muitas pinturas nas igrejas faziam uma catequese do medo, apavorando as pessoas sem criarem alegre expectativa. A imagem de Cristo Juiz do mundo não estimulou a esperança, pelo contrário, na medida em que se falava do juízo final, obscurecia-se o sentido do julgamento que reside unicamente na vitória da justiça de Deus que há de tornar-se a base da nova criação. Daí a necessidade de exorcizar o pânico e o medo do julgamento, para que renasça o desejo de uma feliz realização da obra de Cristo. O motivo dessa esperança é o próprio Jesus Cristo que a si mesmo se entregou pelos pecadores e sofreu as dores e as enfermidades humanas. Ele é esperado como juiz. O Crucificado julgará mediante o Evangelho da justiça de Deus, e não segundo uma lei estranha. O amor de Deus que Jesus proclamou e personificou é incondicional. Ele atinge sua forma mais perfeita no amor ao inimigo. Seria impossível pensar que o Cristo Juiz agirá em contradição com o Jesus dos Evangelhos. Caso contrário, apareceria como outro juiz universal, desconhecido dos cristãos.

A expectativa pelo juízo derradeiro deve estar integrada na expectativa de Cristo, e não inversamente. O juízo deve ser esperado e rezado a partir de seu caráter provisório, porque é premissa para a vinda do Reino eterno. O julgamento de Deus no juízo final não será a última palavra de Cristo. Seu pronunciamento final será: “Eis que eu renovo todas as coisas”. O juízo final, por isso, é passageiro. Definitiva é a nova criação, que será inaugurada com o julgamento. Por isso toda esperança no juízo deve suscitar alegria da libertação, porque a justiça triunfará.

IHU On-Line - Qual é o sentido desta vida dentro da perspectiva da ressurreição?
Leomar Antônio Brustolin - Ensina o cristianismo que, em Jesus Cristo, apesar de vivermos na contingência do tempo, já somos eternos, porque somos filhos da Luz. É por isso que os cristãos já sabem ser ressuscitados e a morte não pode lhes separar de Cristo, como escreve São Paulo.

Aqui está uma verdade a se redescobrir na experiência cristã: a ressurreição não tem efeito somente após a morte, mas é uma experiência que qualifica a vida, de quem já se sente e percebe inundado pela luz da vida eterna. É a mesma experiência que fez Jesus antes da cruz, na medida em que perdoou os inimigos, contemplou a beleza dos lírios do campo, amou sem limites, viveu mergulhado no Pai. A maior dor desse mundo não pode apagar a força da ressurreição que habita o coração cristão. Que o digam os mártires tragicamente assassinados e totalmente consolados pela certeza do Cristo que Vive.

IHU On-Line - Qual é o sentido do Dia de Finados para os cristãos? Teologicamente, como se explica o culto e a reza em memória dos mortos?
Leomar Antônio Brustolin - Diariamente as nossas igrejas celebram missas em memória de pessoas que morreram. São os sétimos e trigésimos dias, motivo de grande afluência de fiéis na celebração eucarística das comunidades. O ser humano sente essa necessidade: rezar ou manter elos com aqueles que já passaram para a outra vida. Apesar desta evidência, não raras vezes, há quem se pergunte: qual o sentido de rezar pelos falecidos? Há um benefício, relação ou comunicação dos vivos para com os mortos, através dessas orações? As respostas geralmente são fruto mais de opiniões particulares ou crenças que não correspondem ao que ensina o cristianismo, especificamente a Igreja Católica.

Toda pessoa que morre é parte deste mundo visível. A história, as experiências, as alegrias e os sofrimentos marcam definitivamente cada um de nós. O que mais determina nosso ser, entretanto, são as relações. Durante a vida conhecemos uma família, crescemos entre amigos, temos colegas de trabalho, escolhemos pessoas mais íntimas, formamos nova família e experimentamos a amizade, o amor e a comunhão. Dificilmente alguém é feliz na solidão e no isolamento. Somos seres, essencialmente, relacionáveis. Tudo isso carregamos conosco para a outra vida, num mundo invisível para nós aqui na Terra. Permanecemos, portanto, unidos em profunda comunhão entre vivos e mortos. Isto, porém, não significa que podemos nos comunicar, como evocar espíritos para falar com os falecidos. A Igreja nunca ensinou que há fantasmas, comunicação com almas do outro mundo, nem encostos ou possessão de espírito de mortos em pessoas vivas. Tudo isso é resultado de uma religião que se misturou com elementos não bíblicos, muita fantasia e descaracterizou totalmente o ensino de Jesus e dos apóstolos sobre a vida e a morte.

Ora, se há uma comunhão entre céu e terra, rezar pelos mortos significa o gesto de maior amor por quem já não está mais conosco. Exteriormente podemos queimar velas, colocar flores nas tumbas, mas realmente somente a oração dirigida a Deus é que estabelece total comunhão. Deus é o mesmo, tanto dos vivos, quanto dos mortos. Rezar é manter-se unido ao Pai que reúne em seu coração, ao mesmo tempo, os mortos e os vivos. Em Deus, somente Nele, a humanidade de todos os tempos sente-se irmanada.

O dia 2 de novembro, dedicado aos mortos, foi definido no século XIII para recordar que, depois do dia 1º de novembro, quando a Igreja celebra todos os santos, deve-se rezar por todos que finaram. O dia de Todos os Santos celebra os que morreram em estado de graça, canonizados ou não pela Igreja. O dia de Todos os Defuntos celebra a multidão dos que morreram e não são lembrados na oração.

Biblicamente é possível sustentar o valor da oração pelos mortos através do texto de 2 Macabeus 12,38-45. No livro de Macabeus, alguns judeus morrem numa batalha. Quando recolhem seus corpos, descobrem-se objetos de idolatria e devoção desses mortos, contrária a fé judaica. Então, seus companheiros rezam para que Deus perdoe o pecado dos mortos. Mais, fazem uma coleta em moedas e enviam ao templo de Jerusalém para que seja feito um sacrifício em sufrágio das almas dos falecidos a fim de que obtenham o perdão de suas faltas. Os vivos, porque acreditam na recompensa da ressurreição, mandam celebrar louvores e súplicas a Deus em benefício de seus companheiros, para que recebam a recompensa de quem é fiel, apesar das faltas. Os vivos acreditavam no valor dos combatentes mortos, mas sabiam que a idolatria é reprovada aos olhos de Deus, por isso recomendam a alma dos mortos, suplicando o perdão. Rezar pelos mortos, além de ser uma obra de caridade, é um gesto de profunda solidariedade.

IHU On-Line - Por que, no cristianismo, o corpo é tão importante quanto a alma e o espírito?
Leomar Antônio Brustolin - O ser humano interage neste mundo através de seu corpo. O corpo é a estrutura fundamental da pessoa, o físico lhe dá suporte. Os atentados contra a vida geralmente ocorrem no corpo. A vida corporal não pode, portanto, ter apenas um significado instrumental. Por isso é preciso superar a visão dicotômica originária dos gregos, para quem a alma era boa e a carne má. Não é plausível, também, a influência cartesiana que intensificou o paralelismo entre corpo e alma na tentativa de explicar melhor as partes e estabelecendo até oposição entre ambos. O corpo é a parte do universo que nós animamos, informamos, conscientizamos e personalizamos. Ele forma unidade com a alma. Assumimos o conceito de alma como a dimensão espiritual e transcendente do ser humano. Muitos preferem o termo espírito e denominam alma a dimensão psicológica (psyché).
O ser humano é terrenal, mas não se limita às fronteiras do visível, transcende-o, porque quem ordenou a matéria e criou tudo do nada soprou no humano o espírito, a dimensão invisível. A separação da alma e do corpo é um grande equívoco na concepção do humano. Para a percepção cristã, a ação divina cria o ser humano completo: corpo e alma, num único sujeito. Por isso o corpo humano, mesmo morto, não pode ser desprezado, nem reduzido o seu valor. Ele deve ser cuidado como lugar das experiências de vida e ressurreição que foram registradas em nossa carne durante o nosso tempo na terra.

IHU On-Line – Quais suas reflexões acerca da dimensão da existência humana a partir da compreensão de morte do cristianismo?
Leomar Antônio Brustolin - Viver e morrer estão intimamente conectados. Presente e futuro nos fascinam tanto porque queremos vislumbrar as conquistas e realizações, quanto nos atemoriza a frustração, o limite e o fim. Em nossos dias, muitos tabus, preconceitos e mitos foram vencidos. Infelizmente, porém, cresceu o tabu a respeito do morrer. Esse assunto é indesejado e até camuflado nas conversas diárias.

Falar do morrer significa tratar do viver. É nesse sentido que pretendemos refletir sobre o tema da vida e da morte. Não separados, mas integrados. Se pensássemos apenas no morrer, poderíamos cair numa abordagem reducionista que colocaria o sentido de tudo somente no final da existência. Muitas pessoas tenderam para essa posição e caíram numa situação deslocada da vida, desprezando o viver e perdendo o sabor dos dias na terra. A tentação maior de nossos dias, contudo, é a abordagem contrária, pensar somente no agora, no material, na vida saudável, jovem e bela que se tem. Mas... isso é provisório demais e pode gerar um desespero quando começam a aparecer os limites.

Uma sociedade altamente consumista e imediatista tem poucas oportunidades de filosofar sobre a vida que tende a um término. Prefere-se “compensar” essas reflexões com soluções pouco sábias que protelam o enfrentamento com a realidade existencial de todo ser humano.

IHU On-Line - Como o Dia de Finados vem sendo celebrado no Brasil? Esta ainda é uma data relevante entre os católicos?
Leomar Antônio Brustolin - O povo brasileiro tem fortes influências indígenas e africanas, culturas que valorizam muito o culto aos ancestrais. Mesmo as colonizações europeias e orientais que aqui se instalaram não descuidam da memória dos finados. Liturgicamente a festa mais importante é a de 1º de novembro, dia de todos os santos, isto é, de todos os mortos que alcançaram a bem-aventurança prometida por Cristo. O dia 2 de novembro foi criado para recordar todos os defuntos, até mesmo os que se acredita não estarem plenamente no céu (porque estariam no purgatório — daí a necessidade de rezar por eles). Contudo, no Brasil, o feriado mais importante é o dia dois, diferente de alguns países europeus de maioria cristã, quando o feriado é celebrado no dia primeiro. Essa questão do calendário merece destaque. O brasileiro estabelece algum vínculo com seus ancestrais. Missas de sétimo dia ainda são ocasiões das pessoas procurarem a igreja, mesmo quem se declara sem religião.
Na minha experiência pastoral, contudo, exercendo há 20 anos ministério presbiteral na cidade de Caxias do Sul, percebo algumas mudanças de comportamento no culto aos mortos. Os velórios são abreviados, a cremação torna-se uma opção mais recorrente e o cemitério deixa de ser referência para muitos enlutados. Especialmente as novas gerações encontram outras formas de expressar seus sentimentos. Se o feriado permite um período mais prolongado de folga, muitos preferem ocupar o dia na praia ou passeando. Sem fazer maiores análises, pode-se dizer que a falta de afeto com as pessoas em vida, especialmente idosos e doentes, reflete-se na ausência de jovens nos cemitérios. A crise da alteridade, a pressa do cotidiano e a ânsia de aproveitar ao máximo a vida podem camuflar uma reflexão mais profunda sobre a morte e o morrer. É a eternização do presente que prescinde do passado e não projeta o futuro. Talvez isso possa ser uma fase de nosso tempo.

IHU On-Line - Como vê os cristãos que recorrem ao Espiritismo na busca de outra resposta para o sentido da morte e da vida? É fato que no Brasil grande parte das pessoas que se autodeclaram cristãs também aderem ao Espiritismo ou mesmo com religiões afro-brasileiras. Isso se deve a uma insatisfação com a abordagem da morte pela teologia cristã?
Leomar Antônio Brustolin - Muitas religiões, em diferentes épocas, ensinam que o ser humano pode voltar a este mundo em outras existências. Hoje, há muitos cristãos que acolhem essa crença e continuam dizendo serem católicos. Acreditam que vão retornar a esse mundo depois da morte, através da reencarnação. Desconhecem que a fé dos cristãos difere dessa concepção. Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que devemos respeitar as diferentes formas de cada ser humano buscar a verdade e o mistério. O direito à liberdade religiosa é fundamental. A doutrina da reencarnação é uma das mais antigas respostas dadas sobre a questão da vida e da morte.
Conforme a reencarnação, há um retorno da alma para esta vida, através de um novo corpo, há um renascimento das pessoas, uma volta a este mundo. Esta doutrina é encontrada nas mais diversas religiões em variadas formas. É uma teoria presente entre os egípcios antigos, os gregos, os celtas, os maniqueus... Mas foi na Índia que a teoria reencarnacionista tornou-se uma ideia a dominar muitos ambientes e influenciar muitas religiões. A fé na reencarnação não pode ser provada pela ciência. A partir do século XIX, a Europa e a América viram desenvolver-se as doutrinas teosóficas, ocultistas e espíritas. Especial atenção se dá no Brasil ao espiritismo kardecista. Segundo Alan Kardec (1804-1869), a reencarnação sempre acontece num corpo humano. Diferentemente de algumas doutrinas reencarnacionistas, como a hindu, onde um espírito pode encarnar também num animal. A fé na ressurreição também não pode ser provada pela ciência. Trata-se de uma doutrina ensinada por judeus e cristãos: católicos, ortodoxos e protestantes. Ela afirma que, após a morte, a pessoa terá o mesmo destino de Jesus Cristo: morrer e ressuscitar. A Igreja, baseada na Bíblia, ensina que “a morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir o seu destino último” (Catecismo n. 1030).

Embora muitos que acreditam na teoria da reencarnação se digam cristãos, eles não o são de fato. Vejamos as razões:
1. A Bíblia não admite a repetição e o retorno do tempo histórico. Cada momento é único e decisivo para a salvação. A cada pessoa é dado um único período de tempo (Sl 90,12; Hb 9,27s);

2. A pessoa é um todo formado de alma e corpo, somos uma unidade. As concepções reencarnacionistas revelam um dualismo: o que importa é a alma, pois ela pode migrar para outros corpos. O cristão sabe que nosso corpo é templo de Deus e que Jesus ressuscitou com um corpo glorioso;

3. A salvação da pessoa não pode ser alcançada só pelos méritos próprios. A salvação é Graça de Deus, dom de Deus. Nossa salvação depende dele, porque “tudo é graça”.

Os antigos Padres da Igreja entraram em polêmicas, às vezes bastante violentas, contra a doutrina da reencarnação, por considerarem-na ridícula e absurda. A ideia de uma conversão após a morte, mediante um novo nascimento neste mundo, não condiz com o ensinamento de Jesus Cristo, portanto, afirmaram que se alguém acreditasse nessa teoria deveria renunciar o título de cristão.

IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Leomar Antônio Brustolin - Desde o homo sapiens até hoje não há prova empírica, unânime e válida que comprove a teoria de que há vida após a morte. Igualmente, não há nenhuma prova de que não haja vida após a morte. Neste caso tudo depende da fé. Acreditar que existe vida além do túmulo ou duvidar dessa possibilidade depende da postura individual, ideológica ou religiosa que se assume. Neste caso até o ateu acredita. Ele crê que não existe nada, certeza, ele não tem.

A concepção da morte se desprende da experiência que fazemos durante a vida. Oxalá, todos pudessem perceber, além das crenças e religiões, esse elemento comum a todo ser humano: há algo em nós que não morre. Quem consegue fazer essa experiência durante a vida, percebe a morte de outra forma. O melhor sinalizador de tudo isso é que homens e mulheres, há milhares de anos, edificaram crenças e religiões que afirmaram essa realidade profunda: fomos criados no tempo para sermos eternos. Afinal, morremos para viver!
(Patricia Fachin)
Fonte: IHU on line, 02/11/2013

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