sábado, 9 de novembro de 2013
" Laranjada Doce " << Nílson Souza >>
Alice é uma maravilha de menina. Ela tem seis anos e costuma invadir, sem aviso prévio, o último recanto de sobriedade de uma redação de jornal, que é a sala onde se escondem os sisudos editorialistas. Quando isso ocorre, nos dias em que ela sai da escola e vem buscar a mãe no trabalho (é filha da editora de Educação, Ângela Ravazzolo), suspendemos nossas atividades para dar-lhe atenção – até mesmo porque não nos resta alternativa. Ela é alegre, espontânea e carinhosa. Chega distribuindo abraços e beijos e logo se instala na frente de um computador. A geração digital não precisa de convite para abrir as janelas da tecnologia.
Outro dia resolvi entrevistar Alice: – O que vais ser quando crescer?
– Estilista! – O que faz uma estilista?
– Roupas chiques.
– É isso que estás estudando?
– Não. Estudo matemática.
– E como é o nome da tua professora?
– Maristela.
– Como ela é?
– Bem legal, graças a Deus.
– Tu acreditas em Deus?
– Acredito! – E como ele é?
– Não sei. Sei que ele existe. – Tu rezas pra ele? – Rezo. Peço que minha mãe e meu pai sejam legais comigo. E eles são.
A lógica dos seis anos é incontestável. Antes de encerrar a entrevista, resolvei perguntar a Alice quando ela demonstraria para nós o que está aprendendo nas aulas de violino. Sua resposta veio com a espontaneidade fulminante que a caracteriza:
– Nunca!
Pois o dia de São Nunca chegou muito antes do que imaginávamos. Na última quarta-feira, movida sabe-se lá por que impulso, a pequenina apareceu na nossa sala com o estojo do seu instrumento na mão, pediu que eu fechasse a porta e deu um breve concerto. Executou Laranjada Doce, que é um acorde para iniciantes. Evidentemente, ficamos todos adocicados, como ocorre sempre depois de suas visitas. Foi aplaudida com entusiasmo.
Alice não sabe, mas a porta de nossa sala fica aberta porque sempre há a possibilidade de ela aparecer nos finais de tarde. E, embora não tenhamos coragem de confessar, também rezamos todas as noites.
Pedimos a Deus que ela continue sendo legal conosco.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário