Por que ela não merece pesquisas na mesma quantidade e qualidade das farmacêuticas?
O executivo se levanta, aciona o Powerpoint e mostra uma curva de aumento de casos de um tipo de câncer. A plateia aplaude. Em seguida vem outro. Expõe o crescimento do número de infectados pelo vírus HIV em alguma região. Mais aplausos entusiasmados.
Estou imaginando a reunião de avaliação de desempenho anual de algum grande laboratório farmacêutico, desses que vendem desde analgésicos até drogas novas e poderosas contra o câncer. O maior número de pacientes equivale a lucros. Os executivos comemoram os bônus pela performance da empresa. É a casa nova, a viagem com a família. E, bem... sem doentes, como sobreviveriam?
Sem os laboratórios, sem pesquisas farmacêuticas, como sobreviveríamos, sem nem sequer um analgésico contra gripe? Os remédios são necessários. As cobaias também. Por isso silenciei durante o escândalo em torno da libertação dos cãezinhos num laboratório em São Roque, São Paulo. Adoro cães, fiquei com o coração mexido diante das imagens daqueles cachorrinhos tão lindos, usados para experiências. Mas o estágio com animais é fundamental para chegar a experiências com seres humanos. Hoje em dia, para um paciente com câncer agressivo, muitas vezes a única esperança é tornar-se cobaia de um novo medicamento. No início da década de 1990, um amigo soropositivo me comunicou, emocionado:
– Consegui entrar para uma pesquisa de um novo remédio contra aids.
Sua esperança era ser cobaia.
Remédios são importantes.
Mas por que as medicinas alternativas não merecem pesquisas na mesma quantidade e qualidade das farmacêuticas? Não falo de loucuras. Na década de 1960, a macrobiótica tornou-se um fenômeno. Prometia a cura de qualquer doença para quem seguisse uma dieta de arroz integral (e só ele) dez dias seguidos. Muita gente foi parar no hospital. Fala-se muito em acupuntura. Alguns convênios até cobrem o tratamento. Já tive prova de que funciona. Há anos subi uma escadaria com mais de 300 degraus em Barcelona. Coisas de meu ímpeto turista. Arrebentei algo na perna esquerda. Andava mancando. Passei por vários médicos, fiz ressonância magnética. Nada. O diagnóstico: uma lesão tão mínima que não aparecia.
Sem andar direito, acabei no doutor Lu, em São Paulo, com formação em acupuntura na China. Em um mês de sessões seguidas, passei a caminhar normalmente.
Tenho um lado xamã urbano. Ultimamente ando bem interessado no trabalho da doutora Hulda Clark, morta em 2009. Ela acreditava na criação de uma medicina eletromagnética. Meu interesse começou há muitos anos, instigado por um massagista que tinha uma máquina de cura por eletricidade. Era uma pequena plataforma, onde se colocavam os pés. Sentia pequenos choques. Uma coceirinha. Levei-a emprestada.
Usei 15 dias seguidos. Uma micose de unha, no dedão, desapareceu. Nunca mais voltou. Eu já tratara antes, com remédios agressivos para o fígado. Mas voltara. Os choquinhos acabaram com ela, sou testemunha. A doutora Hulda foi fundo nessa pesquisa. Escreveu alguns livros anunciando a cura para todo tipo de câncer, que achei otimistas demais. Era contra o uso de metais na boca, por ser cancerígenos. Apoiava os amálgamas.
Sua invenção principal é o zapper. É um aparelhinho que funciona a pilha. A gente prende nos pulsos e aperta um botão. Autoprogramado, o zapper nos envia mínimos impulsos elétricos, para a manutenção da saúde cotidiana. Para casos graves, ela propunha aparelhos mais sofisticados, com uma onda eletromagnética específica para a doença.
Óbvio, ela foi questionada pela Food and Drugs Administration (FDA), poderoso órgão que cuida da saúde nos Estados Unidos. Em Tijuana, no México, montou um centro de pesquisa e tratamento do câncer.
Do ponto de vista do leigo, isso é medicina? Talvez não. Dos médicos tradicionais, menos ainda. Mas vale a pena ter a mente aberta. Impulsos elétricos monitorados não poderiam ser o ponto de partida de novos tratamentos? Assim como a acupuntura, baseada nos fluxos energéticos do corpo?
É excitante a possibilidade de uma nova medicina, com novos princípios, capaz até de complementar a já existente. Mas não tenho conhecimento de grandes investimentos aplicados em conhecimentos tradicionais ou de vanguarda. Acupuntura ou correntes elétricas jamais darão o lucro que lançar um novo medicamento proporciona. A grande questão continua sendo a grana.
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