CLAUDIA TAJES
Tudo começou por causa de um frango congelado no supermercado. Estava escrito na embalagem: para a mulher moderna viver sem culpa. Daí pensei que devia haver algo de muito errado comigo já que, ao menos em tese, pertenço ao gênero das mulheres e faço parte desses tempos ditos modernos. Só que seria preciso mais, muito mais do que um frango congelado para eu viver sem culpa.
E por que alguém viveria sem culpa por causa de um frango congelado? Tentei levantar algumas hipóteses:
1) Porque você, mulher moderna, pode seguir sendo carnívora sem a desagradável tarefa de abater você mesma o seu frango.
2) Porque você, mulher moderna, pode ter a sensação de preparar pratos maravilhosos para a sua família com muito mais praticidade, bastando para isso descongelar o bicho.
3) Porque você, mulher moderna, está acostumada a ouvir que todos os produtos e todos os serviços são feitos para que você viva mais leve, mais bonita, mais despreocupada, mais segura, mais confiante, com cabelos mais lindos, pele mais macia, menos celulite e, claro, muito mais prazer sexual.
Não consultei nenhum pesquisador para conferir o valor (ou a falta de) dos meus chutes. Mas daqui, do imperfeito mundo das consumidoras, me atrevo a votar no de número três. Desde que as mulheres passaram a decidir a compra, qualquer produto anuncia que vai deixá-las ainda mais incríveis. Pode ser batom ou água sanitária, creme hidratante ou arroz parboilizado, panela ou sapato, carro ou desodorante para banheiro. Até parece.
Olhando para a pilha de louça por lavar na pia, concluo que a mulher moderna aqui de casa se contentaria fácil, fácil com um galináceo que se confessasse de boa qualidade e sem conservantes em demasia. E se, em lugar de cair na mesmice, a sua propaganda fosse bem-humorada, melhor ainda. A culpa, essa fica como tarefa para os psiquiatras. Porque se eles apanham para resolver os dilemas das mulheres modernas, e dos homens modernos também, não há de ser um frango congelado que vai conseguir.
Às vezes o Almanaque Gaúcho, na penúltima página do jornal, publica propagandas antigas. Copiando a ideia do homem do Almanaque, o Ricardo Chaves, procurei anúncios da época da Vó do Badanha, dois personagens que ninguém sabe dizer de onde saíram e para onde foram. Ou do Ariri Pistola, outrora muito citado, mas ignorado pelo Google. Pois no tempo do Ariri Pistola a publicidade de produtos voltados ao público feminino era de chorar no cantinho.
Um executivo na cama de gravata era o suficiente para transformar a mulher pré-moderna em escrava. Na cama de gravata? Ao encontrar o anúncio de um cigarro onde o homem sopra a fumaça no rosto da moça e o título diz que, assim, “ela o seguirá por qualquer lugar”, comecei a simpatizar com o frango congelado que faz a mulher moderna viver sem culpa. Para ver como tudo, no fim das contas, é uma questão de perspectiva.
Tudo começou por causa de um frango congelado no supermercado. Estava escrito na embalagem: para a mulher moderna viver sem culpa. Daí pensei que devia haver algo de muito errado comigo já que, ao menos em tese, pertenço ao gênero das mulheres e faço parte desses tempos ditos modernos. Só que seria preciso mais, muito mais do que um frango congelado para eu viver sem culpa.
E por que alguém viveria sem culpa por causa de um frango congelado? Tentei levantar algumas hipóteses:
1) Porque você, mulher moderna, pode seguir sendo carnívora sem a desagradável tarefa de abater você mesma o seu frango.
2) Porque você, mulher moderna, pode ter a sensação de preparar pratos maravilhosos para a sua família com muito mais praticidade, bastando para isso descongelar o bicho.
3) Porque você, mulher moderna, está acostumada a ouvir que todos os produtos e todos os serviços são feitos para que você viva mais leve, mais bonita, mais despreocupada, mais segura, mais confiante, com cabelos mais lindos, pele mais macia, menos celulite e, claro, muito mais prazer sexual.
Não consultei nenhum pesquisador para conferir o valor (ou a falta de) dos meus chutes. Mas daqui, do imperfeito mundo das consumidoras, me atrevo a votar no de número três. Desde que as mulheres passaram a decidir a compra, qualquer produto anuncia que vai deixá-las ainda mais incríveis. Pode ser batom ou água sanitária, creme hidratante ou arroz parboilizado, panela ou sapato, carro ou desodorante para banheiro. Até parece.
Olhando para a pilha de louça por lavar na pia, concluo que a mulher moderna aqui de casa se contentaria fácil, fácil com um galináceo que se confessasse de boa qualidade e sem conservantes em demasia. E se, em lugar de cair na mesmice, a sua propaganda fosse bem-humorada, melhor ainda. A culpa, essa fica como tarefa para os psiquiatras. Porque se eles apanham para resolver os dilemas das mulheres modernas, e dos homens modernos também, não há de ser um frango congelado que vai conseguir.
Às vezes o Almanaque Gaúcho, na penúltima página do jornal, publica propagandas antigas. Copiando a ideia do homem do Almanaque, o Ricardo Chaves, procurei anúncios da época da Vó do Badanha, dois personagens que ninguém sabe dizer de onde saíram e para onde foram. Ou do Ariri Pistola, outrora muito citado, mas ignorado pelo Google. Pois no tempo do Ariri Pistola a publicidade de produtos voltados ao público feminino era de chorar no cantinho.
Um executivo na cama de gravata era o suficiente para transformar a mulher pré-moderna em escrava. Na cama de gravata? Ao encontrar o anúncio de um cigarro onde o homem sopra a fumaça no rosto da moça e o título diz que, assim, “ela o seguirá por qualquer lugar”, comecei a simpatizar com o frango congelado que faz a mulher moderna viver sem culpa. Para ver como tudo, no fim das contas, é uma questão de perspectiva.
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