LUIZ PAULO VASCONCELLOS
Antigamente, tudo era em francês: sutiã, echarpe, batom, limusine, concierge, tudo corretamente escrito no original – soutien, echarpe, bâton, limousine, concièrge. Hoje, é tudo em inglês: happy hour, talk show, pocket book, shopping center, tablet, designer, workshop, on line, black bloc, tudo escrito no mais rigoroso original. O conjunto de termos peculiares à música continua sendo em rigorosíssimo italiano: ma non troppo, com fuoco, da capo, larghetto, vivace, presto – e nem meu querido colega Celso Loureiro Chaves soube me explicar por quê. No universo da gastronomia continuamos a comer fillet, pizza, roast beef, brioche, croquette, camembert, waffle e crouton, tudo temperado com bacon, ketchup e chantilly, terminando com um delicioso capuccino.
Nesta semana, uma notícia sobre uma banda mineira divulgava o nome do novo espetáculo – Funky Funky Boom Boom, e o nome das músicas, cujos ritmos incluíam black music, pop e rock, eram: Reggae Town, Waiting for You, Shine On, Party On e Prety Baby.
A adolescente que se suicidou por ter uma foto publicada nas redes sociais sofreu o quê? Cyberbullying. O ex-presidente Fernando Collor foi afastado da presidência da república depois do quê? Impeachment. Uma reunião de empresas é o quê? Um pool. O triatleta Sergio Lopes, que disputou a Maratona do Gelo na Antártica, sofreu o quê? Frost Bite. E assim por diante.
Na área do teatro não são muitos os estrangeirismos, mas ainda prevalecem alguns: borderô, cachê, clichê, matinê, mise en scène, performance, e o mais maravilhoso de todos, apesar de quase impronunciável – verfremdungseffekt, traduzido por “distanciamento”, termo usado para designar o conceito central do Teatro Épico formulado por Bertolt Brecht na primeira metade do século passado.
A tradução mais aproximada de verfremdungseffekt é “estranhamento”, consistindo numa revisão de fatos ou atitudes que, de tão familiarizado, o espectador já perdeu qualquer perspectiva crítica. Nas palavras do próprio Brecht, “trata-se de uma técnica que permite retratar acontecimentos sociais de maneira a serem considerados insólitos, necessitando de explicação. A finalidade deste efeito é fornecer ao espectador a possibilidade de exercer uma crítica construtiva”. Do que, aliás, estamos necessitando em termos do insólito idioma que falamos. Portanto, verfremdungseffekt pra todos nós.
E para responder à pergunta do título da coluna, encerro com uma frase do grande Darcy Ribeiro: “O brasilíndio como o afrobrasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não-índios, não-europeus e não-negros que eles se veem forçados a criar sua própria identidade étnica: a brasileira”.
Antigamente, tudo era em francês: sutiã, echarpe, batom, limusine, concierge, tudo corretamente escrito no original – soutien, echarpe, bâton, limousine, concièrge. Hoje, é tudo em inglês: happy hour, talk show, pocket book, shopping center, tablet, designer, workshop, on line, black bloc, tudo escrito no mais rigoroso original. O conjunto de termos peculiares à música continua sendo em rigorosíssimo italiano: ma non troppo, com fuoco, da capo, larghetto, vivace, presto – e nem meu querido colega Celso Loureiro Chaves soube me explicar por quê. No universo da gastronomia continuamos a comer fillet, pizza, roast beef, brioche, croquette, camembert, waffle e crouton, tudo temperado com bacon, ketchup e chantilly, terminando com um delicioso capuccino.
Nesta semana, uma notícia sobre uma banda mineira divulgava o nome do novo espetáculo – Funky Funky Boom Boom, e o nome das músicas, cujos ritmos incluíam black music, pop e rock, eram: Reggae Town, Waiting for You, Shine On, Party On e Prety Baby.
A adolescente que se suicidou por ter uma foto publicada nas redes sociais sofreu o quê? Cyberbullying. O ex-presidente Fernando Collor foi afastado da presidência da república depois do quê? Impeachment. Uma reunião de empresas é o quê? Um pool. O triatleta Sergio Lopes, que disputou a Maratona do Gelo na Antártica, sofreu o quê? Frost Bite. E assim por diante.
Na área do teatro não são muitos os estrangeirismos, mas ainda prevalecem alguns: borderô, cachê, clichê, matinê, mise en scène, performance, e o mais maravilhoso de todos, apesar de quase impronunciável – verfremdungseffekt, traduzido por “distanciamento”, termo usado para designar o conceito central do Teatro Épico formulado por Bertolt Brecht na primeira metade do século passado.
A tradução mais aproximada de verfremdungseffekt é “estranhamento”, consistindo numa revisão de fatos ou atitudes que, de tão familiarizado, o espectador já perdeu qualquer perspectiva crítica. Nas palavras do próprio Brecht, “trata-se de uma técnica que permite retratar acontecimentos sociais de maneira a serem considerados insólitos, necessitando de explicação. A finalidade deste efeito é fornecer ao espectador a possibilidade de exercer uma crítica construtiva”. Do que, aliás, estamos necessitando em termos do insólito idioma que falamos. Portanto, verfremdungseffekt pra todos nós.
E para responder à pergunta do título da coluna, encerro com uma frase do grande Darcy Ribeiro: “O brasilíndio como o afrobrasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não-índios, não-europeus e não-negros que eles se veem forçados a criar sua própria identidade étnica: a brasileira”.
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