sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Outros Tempos, escreve David Coimbra




Outro dia, uma estudante de Arquitetura ligou para me fazer perguntas sobre o velho IAPI. Estudantes de Arquitetura adoram o IAPI. A folhas tantas, ela quis saber:

– Vocês se sentiam isolados no IAPI dos anos 70?

Fiquei pensando. Isolados? Bem, não existia internet ou celular nos anos 70. Mais: nenhum de nós, com exceção de uma única menina, tinha telefone em casa. Não tínhamos telefone EM CASA, imagine. Quer dizer: a comunicação era de fato precária. Ainda assim, as coisas funcionavam como funcionam hoje. Nós saíamos, encontrávamos os amigos, namorávamos as gurias. Como fazíamos sem Facebook, Twitter, e-mail e mensagem de texto? Uma façanha.

Nossa vida se passava naquelas imediações. Não havia shoppings em Porto Alegre, o primeiro foi o Iguatemi, erguido do chão bruto da Zona Norte em 1984. Então, o lugar para se ir, fora da vizinhança, era a Rua da Praia. O Centro buliçoso. O lugar em que as meninas passeavam de minissaia. Não era com qualquer roupa que se ia ao Centro. Mas, em geral, a Rua da Praia era só para compras nobres e para a observação da raça humana em desfile.

As compras do dia, açúcar, mate, litro de leite, meio quilo de pão semolina, essas fazíamos no mercado do seu Zequinha; as mais pesadas no Febernatti, ali perto, ou no Econômico, mais adiante. Para beber uma gelada? O Bar do Alemão, na Volta do Guerino, ou o do Chico, sob o Obirici. Corte de cabelo?

No Salão Gre-Nal, onde podíamos conferir todos os números da Revista Placar. Assistimos ao Tarcísio Meira fazer um Dom Pedro perfeito, em Independência ou Morte, no grande Cine Rey, se bem que é verdade que Nos Tempos da Brilhantina nós vimos no Capitólio, tivemos de pegar o Linha 20, desembarcar na Praça Dom Feliciano e descer toda a Borges para, ao chegar lá, a Maristela admitir que tinha menos de 16 anos e ficar de fora da sessão, era bem tansa a Maristela.


Quando já estávamos mais taludos, decidimos ousar: os embalos de sábado à noite aconteciam no Gondoleiros, no remoto Quarto Distrito. As noites tocadas pelos Discocuecas eram as melhores. Numa dessas, o Sérgio Anão deu um show de dança travoltiana, apontando com o indicador para o globo giratório, se requebrando até o chão e arrancando aplausos da galera. Às quatro da madrugada, voltávamos a pé para o IAPI. A pé, quem diria.

                                                                  Era outro mundo?


Não. Era igualzinho. Não havia tanto para se consumir, nem tanto para ver, mas as necessidades, os desejos e os sentimentos eram os mesmos. As pessoas precisam das outras pessoas em qualquer tempo ou lugar. Nada do que se tem ou do que se sabe é mais importante do que isso. Isso não muda. Nem nunca vai mudar.
 

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