Recentemente, o presidente Obama passou a
impressão de ter pena dele mesmo. Dias antes de sua segunda posse, o clima de
emoção e enlevo que permeou a primeira cerimônia não estava presente. Em vez
disso, havia o cansaço ou talvez até mesmo o tédio de um homem só, conformado
com a perspectiva de enfrentar mais politicagem e disputas mesquinhas.
"Agora que minhas filhas estão crescendo, elas
não querem passar muito tempo comigo. Então eu provavelmente vou ter que ficar
telefonando para uns e outros, procurando alguém para jogar baralho ou algo
assim", falou Obama à imprensa.
Como escreveu Maureen Dowd no "New York Times",
"ele pareceu dar a entender que o cargo pelo qual lutou tanto e pelo qual
superou tantos obstáculos para conquistar é cansativo ou até mesmo
tedioso".
Mas um pouco de tédio talvez seja bom e até
recompensador. No romance de 2012 "How Should a Person Be?"[Como uma pessoa deve
ser], de Sheila Heti, uma personagem diz: "Gosto de pessoas enfadonhas. Acho
isso uma virtude. As pessoas deveriam ficar um pouco entediadas".
Cada vez mais, especialistas concordam com ela,
dizendo que o tédio força nosso cérebro a sair por tangentes interessantes e a
ser criativo. "O tédio é a maneira de o cérebro comunicar que você deveria estar
fazendo outra coisa", disse ao "NYT" Gary Marcus, professor de psicologia na New
York University.
"Mas o cérebro nem sempre sabe a coisa mais
apropriada a fazer. Se você está entediado e utiliza essa energia para tocar
violão ou cozinhar, isso o deixará feliz. Mas se assistir à TV, isso pode
deixá-lo feliz a curto prazo, mas não a longo prazo."
Quando estamos entediados, podemos aprender
como nos divertir e ganhar mais autocontrole.Somos obrigados a ser imaginativos
com coisas mais simples.
Mas as crianças são estimuladas constantemente
com videogames, engenhocas e televisão. Pesquisadores dizem que a adolescência é
o período de tédio máximo, e a indústria de brinquedos vem tentando sofisticar
seus produtos para garantir engajamento máximo dos consumidores. A Lego,
criadora dos blocos plásticos de construção com poucas instruções, tem visto a
popularidade de seus produtos crescer outra vez, mas os pais lamentam que os
legos de hoje estejam ligados a franquias bilionárias como "Star Wars" e "Senhor
dos Anéis". Hoje os blocos vêm com instruções detalhadas e histórias prontas,
privando as crianças da necessidade de criar.
O professor de sociologia Clifford Nass, da
Universidade Stanford, na Califórnia, disse ao "NYT" que algumas qualidades
essenciais dos legos perderam-se quando eles tornaram-se semelhantes a outros
brinquedos. "Agora você fica parado e a Lego diz 'deixe que a gente faça o
trabalho'", comentou.
As crianças podem ficar irrequietas com o tédio
e a frustração, mas pesquisas mostram que isso, na realidade, as ajuda a
aprender mais e a reter mais informações do que as crianças que são obrigadas a
ficar sentadas sem se mexerem, disse ao "NYT" o professor de neurociência Mark
J. Fenske, da Universidade de Guelph, em Ontario. Ficar contorcendo-se e fazer
rabiscos, coisas vistas como sinal de tédio, podem na realidade ajudar as
pessoas a ficar fisicamente alertas, disse ele.
Também é importante desligar os aparelhos da
tomada e curtir o silêncio. Como disse Sheila Heti ao "NYT": "Acho que o
estímulo é sobrevalorizado. É preciso ser banal e maçante às vezes -reduzir o
ritmo, dar um descanso à cabeça."
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