É verdade que todos os paraísos são
paraísos perdidos? A julgar pela aparência todas as histórias, até a história
bíblica, nos garante que sim. De facto, no livro do Génesis, o primeiro casal
humano acaba lançado para fora do paraíso, depois de uma breve e atrapalhada
permanência. E as portas do paraíso ficam interditas aos humanos. Contudo, a
linguagem simbólica e a natureza teológica daquele relato exigem uma atenção a
investimentos de sentido que se podem sintetizar assim: o tempo da
salvação não é narrado como nostalgia de uma época de ouro passada, mas, o
que se procura afirmar é que, através de vicissitudes e contradições, o tempo
não deixa de avançar para uma plenitude. De certa forma, o homem descobre que
está fora do paraíso para que possa encaminhar-se para ele. A expulsão bíblica
não é, portanto, uma perda, mas o primeiro, e misterioso, passo para o caminho
da promessa. O que não se escamoteiam são as tensões e desvios que o homem vai
introduzindo. Reconhecer, porém, que mundo e a história não são propriamente
lugares paradisíacos não nos deve fazer cair os braços, nem desesperar.
No território ambíguo que se abre, na
irresolução que nos caracteriza a nós próprios, os crentes são chamados a
identificar (e a imaginar) novas possibilidades.
Que ensina a sabedoria bíblica aos nossos
tempos conturbados? Ensina, sem dúvida, que a esperança é mais importante de que
a saudade; e que a promessa humilde que, quotidianamente, nos coloca a caminho é
bem mais preciosa que os paraísos que nos deixam parados a olhar para
trás.
Na magnífica encíclica sobre a Esperança, e que
podia bem servir-nos de mapa nas horas de sofrimento e de incerteza, escreve o
Papa Bento XVI: “A esperança em sentido cristão é sempre esperança também para
os outros. E é esperança ativa, que nos faz lutar para que as coisas não
caminhem para o «fim perverso». É esperança ativa precisamente também no sentido
de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela permanece também uma
esperança verdadeiramente humana”.
--------------------*Diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da
Cultura
Fonte:
http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=93982
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