Para nós, ocidentais, o livro-base
continua sendo a Bíblia, em seus dois Testamentos. A ela devemos o relato da
criação, escrito não se sabe por quem, apesar de os judeus atribuírem os cinco
primeiros livros a Moisés.
Nela está escrito que o espírito de Deus
pairava sobre as águas, até que ele deu uma ordem ou expressou um pedido: "Fiat
lux". E a luz foi feita. Primeira pergunta: a quem ele deu essa ordem ou
expressou esse desejo? A ele mesmo, ou havia alguém ou alguma coisa capaz de
atendê-lo?
Ainda no processo da criação, Ele teria dito:
"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança". Usou o plural. Haveria alguém ao
lado ou acima dele? Bem, a linguagem --qualquer linguagem-- é metafórica ou
simbólica, traduzindo em letras aleatórias uma realidade espiritual ou física
para a transmissão de um conhecimento.
Será que o Deus cultuado no Ocidente é um Deus
menor, um demiurgo como queria Platão, com jurisdição limitada ao que nós
chamamos de Universo? A mesma pergunta transcende ao Deus criado por judeus,
árabes e cristãos em oposição aos deuses do paganismo, responsáveis por
civilizações antigas, como a dos persas, a dos egípcios, a dos gregos e a dos
romanos. Paganismo que fez Abraão abandonar sua cidade natal --qualquer
entendido em palavras cruzadas sabe que ele saiu de Ur, na Mesopotâmia, porque
acreditava e fez seus descendentes acreditarem num único Deus.
Ele teria usado o plural para fazer o homem à
sua imagem e semelhança. Seria Ele o responsável pelo antropomorfismo, dando à
sua criatura as características ontológicas de seu Ser, sendo Ele "ens ut ens"?
Daí o nome de Deus em hebraico ser plural: Elohim.
São perguntas que não sei responder, como não
sei se Lula tinha ou não domínio do fato que resultou no mensalão.
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* É
membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Sua carreira no jornalismo
começou em 1952 no "Jornal do Brasil". É autor de 15 romances e diversas
adaptações de clássicos. Cronista da Folha.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/26/02/2013
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